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Crônicas
Nada será como antes
Olhei para o bolo de chocolate com aquela cobertura de brigadeiro escorrendo pelos cantos. Peguei um prato e já ia me servindo, quando fui assaltada por um pensamento aterrorizante — esse é o último pedaço. Uma sensação de finitude me invadiu; como liquidar essa fatia que ainda pode durar até amanhã? Não, não posso fazer isso, vou dividir para ela…
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Crônicas
Semancol Homeopático
Medicamento fitoterápico de amplo espectro, indicado para pacientes que perderam a autocensura e para aqueles que sofrem de compulsão verbal, podendo ser administrado também em pacientes com quadros de perda de cerimônia, falta de educação e traços de inconveniência. Ação esperada do medicamento Semancol Homeopático se mostrou extremamente eficiente no combate à boca solta, diminuindo sensivelmente a incidência de comentários…
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Crônicas
Chá de revelação
Recentemente li uma matéria sobre o nascimento de um filhote de pinguin que teve um chá de revelação, com direito a festa, bolo, post em rede social e tudo o mais. A princípio fiquei meio confusa, pois não captei o que seria esse tal chá para um pinguin. Lendo o restante da matéria, me encantei com a jogada de marketing…
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Crônicas
A vida presta, muito
A frase antológica de Guimarães Rosa, citada por Fernanda Torres em seu discurso na premiação do Globo de Ouro, me fez pensar nos múltiplos significados nela contidos. Na minha leitura do filme Ainda Estou Aqui, dois deles me tocaram sobremaneira: — O amor incomensurável de Eunice por seus filhos, a ponto de tentar, depois do trágico desaparecimento de Rubens Paiva,…
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Poesias de 1 a 99
Arrimo de família
Noite fria, sombria, quieta.Ele, calado, encolhido, matutando.Eu, na espreita, alerta, sentinela.Nós, famintos, sedentos, enjeitados.Olhos remelentos, húmidos, arregalados.Corpos esquálidos, caquéticos, patéticos.Dentes que bambeiam, rareiam, vadios.Garrafa vazia, gamela vazada.Burburinho no beco, grupinho do boteco.Garotada excitada, bebida exagerada.Sanduba na mão, churrasco no pão.Passo apressado, casaco amarrado.Rota traçada, calçada apertada.Molecada bloqueada, assustadaCarroça encostada, coberta rasgada.Ele apagado, encolhido, deitado.Eu agitado, pescoço esticado.Abano o rabo, procuro…
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Crônicas
Deixar pelo caminho
Arrumando a mala para viajar no final de ano, separei as roupas que iria usar: roupas leves e confortáveis para o dia, pois vou para o calor, uma opção mais elaborada para o réveillon, traje de praia, sandálias e uma roupa de caminhada. Enquanto pensava na mala e em como conseguir selecionar o básico, essencial, aquilo de que realmente preciso,…
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Crônicas
Robérvios
À noite todos os gatos são pardos, e Robérvios estava certo de que Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Afinal, Saco vazio não para em pé. Sempre ouvira falar que Deus escreve certo por linhas tortas e que Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Mas Quem não chora não mama e…
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Crônicas
Mundo natalino
Bolas vermelhas, luzes piscando, pinheirinhos enfeitados, presentes. No Brasil, assim como em outros lugares de tradição católica, é hora de preparar a ceia de Natal para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus, ponto alto de todas as datas comemorativas do cristianismo. Envolta na mística religiosa, a data reafirma a fé de que o cordeiro de Deus…
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Crônicas
Torturante band-aid no calcanhar
Toda vez que alguma coisa me incomoda, lembro da música São dois pra lá, dois pra cá, de João Bosco e Aldir Blanc, cantada magistralmente por Elis Regina. Acho que não existe coisa pior do que sentir a presença de alguma coisa que não deveria dar sinal de vida, como um band-aid no calcanhar. Sua função é proteger um machucado,…
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Crônicas
Folhas ao vento
Entro no parque e na primeira curva avisto o Soprano, nome que atribui a um funcionário do parque. Fácil identificar o Soprano de longe, mesmo que vestindo o mesmo uniforme dos outros funcionários – ele anda com seu companheiro fiel, o soprador de folhas, sempre a tira-colo. Conforme chego perto, umas nuvens de folhas secas, sob o comando de Soprano,…
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