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Crônicas
Lasanha
E a lasanha deu certo. Sim, confesso que por um momento eu duvidei que o resultado final ficaria bom. Minha filha decidiu fazer sua receita a partir de outra receita. Explico. Começou com o pedido dela para fazer lasanha. Cantei de felicidade. Concordei que ela deveria fazer diferente da que a avó faz, claro. E fui em busca da receita. Ela leu e disse que queria fazer do jeito dela. Engoli em seco e perguntei do que se tratava. Não queria presunto. Tudo bem. Nem pimenta do reino. Me espantei. Ponderei que tirar tempero não dava. Era essencial para dar sabor. Ela estava irredutível e ai apelei: perguntei se já tinha provado. Disse que não. Peguei um pouco e pus na mão. Arregalou os olhos azuis como se tivesse visto o diabo em pessoa. Acalmei-a e já ia capitular –…
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Crônicas
Panqueca
Pai vamos fazer panqueca? A pergunta-convite me acendeu os olhos de alegria! Chequei se tinha tudo que ela precisava. Sim, nada faltava. Peguei um avental para cada um e fomos à cozinha. Estava radiante, afinal cozinharia com uma de minhas filhas. Prometi ser seu assistente. Abri o livro com a receita, ela se inclinou sobre a página, concentrada. Separou os ingredientes, testou os ovos (Não sabe como faz? Põe na água, se boiar joga fora). Se enrolou um pouco com aquela estória de colher de café, de sobremesa e de sopa. Mas quando começou a operação percebi que estava diante de alguém de padrão muito elevado. A farinha foi medida no copo medidor com uma precisão de deixar qualquer câmera de trânsito, daquelas que flagram os infratores, no chinelo. E os ovos? Nem na próxima encarnação serei capaz de quebra-los…
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Crônicas
Sem grilhões
Li agora a pouco, cinco minutos dentro do dia 1º de outubro, que ninguém pode ser preso no Brasil. Calma, não foi instituído nenhum perdão antecipado para crimes e criminosos e muito menos entramos no estado do “vale-tudo”. É só efeito da legislação eleitoral, cujos detalhes não sei nem conferi e se você que me lê estiver muito curioso vai lá e pesquisa, combinado? Porque o assunto aqui é outro. Bom seria se pudéssemos nos livrar dos grilhões antecipadamente. As amarras da vergonha e do medo. Não sentir culpa por nada. Não evitar o ato pela mania besta de antecipar que pode dar errado. Correr riscos, sim, porque o desconhecido nem sempre é ruim. Andar de cabeça erguida sem temer o dedo acusador, a censura. Expressar quem você é e o que deseja ser. Não se envergonhar porque abriu a…
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