Mário Baggio

Mário Baggio é jornalista e escritor. Nasceu em Ribeirão Claro-PR. Mora em São Paulo-SP desde os anos 70. Tem 6 livros de contos publicados: “A (extra)ordinária vida real” (2016), “A mãe e o filho da mãe (2017), “Espantos para uso diário” (2019), “Verás que tudo é mentira” (2020), “Antes de cair o pano” (2022) e “A vida é uma palavra muito curta” (2024). Publicou contos em várias revistas eletrônicas (Germina, Gueto, Ruído Manifesto, Subversa, entre outras). Escreve quinzenalmente no blog literário Crônica do Dia e no Crônicas Cariocas. Participou da “Antologia Ruínas” (2020), “Tanto mar entre nós: diásporas” (2021), “Brevemente Infinito” (2024) e Antologia de Contos da UBE-União Brasileira de Escritores (2021 e 2023).
  • Contos

    Os dedos de fogo de Angústias

    Angústias é uma menina com dedos de fogo e por isso é uma menina triste. Tudo o que toca arde. Vive longe do mar, num lugar parecido a um deserto, mas muito frio, com terra avermelhada como tingida de sangue. Pouco chove ali e, quando isso acontece, a terra se transforma num espelho e lança brilhos que chegam às nuvens.…

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  • Contos

    Quando o nosso nome estiver gravado na pedra

    Até os dez anos me chamei Donato, embora meus pais nunca tivessem gostado desse nome. Por que me batizaram assim é um mistério. “Não está com o rosto definido ainda”, diziam. “Quando for adulto e sua cara indicar que nome deve ter, mudaremos.” E assim foi. Aos doze, com a mudança de voz, decidiram que Donato já não combinava comigo,…

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  • Contos

    A difícil arte de aceitar afeto

    O homem com a cicatriz no rosto viu quando ela ia descalça e mancando pela estrada. Parou o carro e a pôs no banco de trás, encolhida feito um novelo. Ela tremia de frio, ele a cobriu com uma manta. Dirigiu o mais devagar que pôde, nenhum solavanco a perturbasse. Não trocaram palavra. Em casa, deu-lhe banho quente, segurando-a pela…

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  • Contos

    Tatiana está sangrando

    Era perto do meio-dia quando Tatiana saiu correndo da escola. Ela tinha ainda que almoçar antes de se encontrar com a Ju. Estava atrasada, e isso a fazia suar mais. Passou no meio dos meninos a tempo de escutar “A gorda tá com pressa?” Olhou para a frente e correu mais. Não dava tempo de chorar. “Corre mesmo, gorda, pra…

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  • Contos

    A casa de Cortázar, tomada

    . em homenagem ao conto “Casa Tomada”, de Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino Gostamos da casa porque, além de espaçosa e antiga (mesmo que hoje as casas antigas sejam pouco valorizadas), guarda as recordações de avós e bisavós, pais e toda a nossa infância. As paredes sabem de nós, quem fomos, quem somos. O eco das vozes do passado ainda…

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  • Contos

    Clementina

    Este ano toca plantar e colher milho, já deram a ordem. Antes já foi feijão e trigo. Milho agora. A gente ouve, a gente cumpre. Mas não vai chover uma gota, disseram. Outra colheita perdida. Apesar de tudo, Clementina segue na lavoura, cavucando a terra seca com a enxada sempre à mão, fazendo valas, eliminando as ervas daninhas, arrancando cogumelos…

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  • Contos

    Um leão na beira da estrada

    Vi-o de longe e identifiquei o leão parado na beira da estrada. A juba grisalha e rebelde não podia ser de outra pessoa. Era ele no acostamento, apoiado em seu carro com o capô levantado. Tinha nas mãos um galão de plástico vazio e parecia aguardar uma carona. Eu passei de moto, capacete posto, só os olhos à mostra. Meu…

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  • Contos

    A filha do Frankenstein

    Quando minha mãe ficou grávida de novo, meu pai me disse que, dali em diante, eu teria que ir sozinho à escola, pra que ela pudesse descansar. No começo, tive nojo dos vômitos dela, sempre na hora em que estávamos comendo, depois me acostumei. Ela vomitava numa toalha felpuda que logo era jogada na máquina de lavar. Depois os enjoos…

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  • Contos

    A cena vencedora

    Um casal de velhinhos com a roupa encharcada de merda e vergonha caminha com esforço pela calçada, esgueirando-se pelas paredes. Os dois vão para casa e querem chegar logo. As pernas não ajudam e eles percebem isso. Olham para os lados, que ninguém os veja no estado em que estão. Balbuciam palavras um ao outro, procurando entender o que tinha…

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  • Contos

    A poeira branca

    O professor mandou que eu entregasse um bilhete pra minha mãe. Antes li o que estava escrito: dizia que precisava falar com ela porque eu estava com as notas baixas, não sabia a lição, estava com dificuldade para aprender e andava muito distraído. Deixei o papelzinho sobre o criado-mudo, perto do copo de leite que eu tinha posto lá de…

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