Sei lá… a vida tem sempre razão
É no cair do sol que nossa leitura da vida insiste em revisitar páginas passadas. Ali, contemplando a luz que se esvai, as lembranças faíscam e, por alguns instantes, pincelam nosso tecido afetivo com novas tonalidades.
As dobras cinzentas das amarguras que emboloraram com o passar do tempo agora se apresentam pontilhadas de rosa. Partículas de luz que revisitam pequenos gestos não revelados de ternura e a compreensão do quanto de bem-querer havia por debaixo da armadura com que procuramos nos proteger.
A purpurina da vaidade com que nos vestimos, no sol poente, adquire uma coloração quase transparente, evidenciando a fugacidade do sucesso que eventualmente nos inebriou. Sem ela, o tecido de algodão alvejado pela vida volta a mostrar sua própria cor, a cor da humildade com que vamos, todos nós, fazer a passagem para outro plano de existência.
Os rasgos que provocamos na toalha de mesa das amizades deixam passar os raios de luz do arrependimento, e nos mostram como cerzir aquilo que ainda há tempo para recuperar, um caminho de redenção nunca tardia.
À luz da lua que desponta, os fios prateados da velhice se misturam com os últimos raios de sol e tingem o nosso semblante de um vermelho plácido, reconfortante.
Seu brilho se despede, lentamente, sem ansiedade, e é nessa suave contemplação que absorvemos aquilo que a vida nos ensinou, pois… a vida tem sempre razão.
xkqsj3
Que lindeza de crônica. Quanta poesia e verdade em cada linha. E o melhor é saber que a vida sempre pode nos surpreender.
Obrigada querida!