Retomando a minha colaboração com o Crônicas Cariocas , que retorna aos leitores, pensei em escrever mais crônicas do que críticas, meu foco na fase anterior do site. De certa forma, porém, não deixo de falar sobre livros, pois eles servem de ponto de partida para minhas elucubrações, ainda mais quando refletem justamente sobre algo do meu cotidiano. Foi o que aconteceu por esses dias, quando tive que enfrentar duas dentistas e, por coincidência, me caiu em mãos certo livro policial que envolve dentes.
O dente é uma das provas de que a natureza é imperfeita. Quem acredita em um Criador, jamais pode dizer que ele primou pela perfeição. Não me venham com chorumelas!, como diria um personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Quer acreditar, leitor, acredite, mas não tente me convencer. Por que essa desgraça tem que doer, mesmo quando você tenta cuidar do dito cujo? Por que existe o tal de dente sensível? Por que a gengiva se retrai e você corre o risco de perder seus dentes? Por que diabos você tem que ter bruxismo à noite? No creo en brujas, pero que las hay las hay.
É por causa do bruxismo, segundo uma das dentistas que me atendeu, que, para dormir, preciso usar uma placa, moldada especialmente para os meus dentes de cima, algo parecido com uma prótese dentária (nome mais bonito para a dentadura).
Sou um sujeito que, talvez pelo estresse (sou professor de ensino básico na rede pública!), ranjo os dentes de dia e de noite, ocasionando certo desgaste. Lembro os versos do poeta Augusto dos Anjos: “Os dentes antropófagos que rangem, / Antes da refeição sanguinolenta!”.
Mas aí, motivado por outro retorno, desta vez de uma das poucas séries que me fazem trocar meu tempo precioso de leituras para ficar na frente da tela, Hannibal, no Amazon Prime , resolvi ler o romance que deu origem ao Dr. Lecter, O dragão vermelho, de Thomas Harris, e depois assistir à sua primeira adaptação, Manhunter-Caçador de assassinos, dirigido por Michael Mann nos anos 80. Acontece que o serial killer investigado pelo agente William Graham é conhecido como “Fada dos Dentes” e usa uma prótese para deixar uma marca de mordida em suas vítimas. Pois a danada da dentadura me lembrou do troço que terei que usar diariamente!
Posso não acreditar num Criador, porém existe algo chamado Acaso e que nos prega algumas peças. Ah, isso não tenho dúvida nenhuma.
Obrigado pelo retorno ao Crônicas Cariocas com um texto pra lá de bacana. ♥️