Ano Novo judaico

  • Mundo natalino

    Bolas vermelhas, luzes piscando, pinheirinhos enfeitados, presentes. No Brasil, assim como em outros lugares de tradição católica, é hora de preparar a ceia de Natal para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus, ponto alto de todas as datas comemorativas do cristianismo. Envolta na mística religiosa, a data reafirma a fé de que o cordeiro de Deus veio para tirar os pecados do mundo, e esse é o momento de fazer uma retrospectiva do ano que passou, e pedir a absolvição dos pecados praticados.

    Assim como o Natal para os católicos, O Yom Kipur, ou Dia do Perdão, é a data mais importante do judaísmo. Comemorado no décimo dia após o Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, a data é marcada por jejum, reflexão, perdão e arrependimento dos erros cometidos no passado.

    Para fechar o círculo, da mesma forma que o Natal e o Yon Kipur, para os muçulmanos, o Ramadã é considerado o mês do perdão. Ele culmina com o Eid Al-Adha, momento em que os muçulmanos se reconectam com Allah a fim de terem seus pecados perdoados e se tornarem pessoas melhores.

    Catolicismo, judaísmo, islamismo, diferentes crenças que se conectam pela proposta de arrependimento e perdão pelos erros cometidos ao longo do ano, e elegem um dia para isso. Aliviados e com a alma elevada pelo sentimento de fraternidade, caridade e bondade que emana desse momento de confraternização e orações, seguem a vida da mesma forma como sempre seguiram, porém, até o próximo perdão.

    Imagino que, a essa altura, cada um dos leitores fiéis a essas ou outras crenças terá uma longa explicação para rebater esse meu ceticismo religioso, mas como justificar a barbárie que acontece nos intervalos entre um perdão e outro?

    Estamos assistindo a mais um período de exacerbação dos conflitos entre povos, nações, grupos sociais, com atrocidades cometidas por todos os lados envolvidos. Independentemente do que reza a Bíblia, o Torá ou o Alcorão, a violação do direito à vida é praticada sem dó nem piedade, muitas vezes até justificada pelos algozes como uma “limpeza étnica”.

    Em paralelo, essa “limpeza” ganha força também nos confrontos internos da sociedade, entre os que detém o poder e as populações mais vulneráveis, a quem deveriam proteger, respeitar, representar.

    Como observadores do que acontece ao nosso redor, não tenho dúvidas de que essa análise tem eco em uma grande parte dos leitores, mas o que diremos se a lente for voltada para dentro de cada um de nós? Conseguimos encarar com humildade o fato de que nos sentimos absolvidos a cada dia do perdão, arrancamos aquela página do nosso caderno e continuamos a praticar os mesmos “pecados” daí para frente, até a próxima redenção? 

    Ou preferimos fechar os olhos e cantar Jingle Bells?


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