Quando o assunto é viagem a propaganda e as fotos quase sempre são melhores que a realidade, mas mesmo sabendo disso às vezes entramos em furadas. Uma observação óbvia que vale tanto para escolher um hotel quanto para iniciar um relacionamento à distância (risos).
Arrisquei uma viagem de ferry com um carro de matrícula inglesa para ir à então belicosa Irlanda do Norte visitar a famosa ‘Calçada dos Gigantes’ (Giant´s Causeway), uma formação geológica à qual o guia Michelin, meu guia de viagens predileto desde sempre, atribuía a cotação máxima de três estrelas. É a maior atração turística do país e nas fotos parecia monumental. Se você é geólogo vai ficar encantado, para mim foi apenas um chão de pedras curiosas e bastante escorregadias, que se alcança depois de uma boa caminhada ou pegando um ônibus que sai do centro de visitantes. Para quem tiver disposição há formações mais afastadas que talvez valham a pena, mas o frio e o risco de cair me desanimaram. Dois dias de viagem quase perdidos.
Gosto de conhecer a cultura e a natureza de outros lugares, porém evito gastar o meu rico e controlado dinheirinho para ver algo parecido ao que já tenho por perto. Infelizmente é inevitável que isso aconteça de vez em quando, por confiar na indicação de um guia de viagens ou participar de um passeio organizado primordialmente para estrangeiros. Em Portugal fiz uma trilha longa e exaustiva no Parque do Buçaco, que é lindo, mas parecidíssimo com a Floresta da Tijuca aqui no Rio. O dia teria sido bem melhor aproveitado visitando outra coisa. Faço turismo para conhecer o diferente.
Na Tanzânia, debaixo de chuva e com pés afundando na lama, vimos uma floresta que era muito parecida com as brasileiras. Claro que havia algumas espécies de plantas diferentes, mas não compensava o sacrifício. O ponto alto da visita foi avistar um macaco no alto de uma árvore. Os gringos só não gritaram de alegria porque isso espantaria o animal. Um mico como tantos que afligem os cariocas que moram perto de áreas de mata quando invadem as casas para roubar comida. Em um estacionamento que costumo usar em Botafogo há montes deles caminhando pela fiação elétrica.
Como parte do turismo gosto de experimentar a comida local, o que já me rendeu algumas formidáveis dores de barriga (para não usar palavras mais deselegantes). Sair do Brasil e ficar suspirando por arroz, feijão e bife só se justifica se a pessoa tem restrições alimentares, é exilada ou está longe há muito tempo. Também aí a gente se desilude: a comida chinesa que me serviram, considerada uma das mais sofisticadas do mundo, era apenas razoável. Por sorte, existe o reverso da moeda: a culinária húngara, da qual mal se ouve falar por aqui, mostrou-se excepcional.
Sim, porque se há decepções, igualmente existem boas surpresas em viagens. Uma delas foi Muscat, capital de Omã. Temos a tendência de pôr no mesmo saco países que são próximos geograficamente. O mundo árabe, pouco conhecido dos brasileiros, não é um bloco compacto. Quando perguntarem a você se aqui se fala espanhol ou se a nossa capital é Buenos Aires, lembre-se disso e perdoe.
Na Arábia Saudita, que está na minha lista de desejos, conheci somente a cidade de Damman, um importante porto comercial sem nenhum interesse turístico. No entanto foi o ponto de partida para visitar o Ithra Center, um espetacular centro cultural construído no meio do nada, maravilhoso pela arquitetura e pelo conteúdo. Você encontra fotos do Ithra na internet, mas garanto que não fazem jus à realidade. Um dos raros caso em que o cartão postal fica devendo.