As galinhas (raízes, autênticas) botavam o ovo e cacarejavam. Umas mais que as outras.
Saíam pelo quintal em alto e bom som espalhando o feito.
Passavam em meio às colegas solteiras, aos galos jovens e imponentes e ao preferido — aquele com quem, há poucos dias, haviam ciscado lado a lado, enquanto ele a cortejava disfarçadamente.
Quanto à galinha choca e seus pintinhos, ela era evitada ou ignorada.
Enfim. Cacarejava e desfilava, indo de um lado a outro.
Comunicar era o objetivo.
Essas eram as que tinham casa, comida, vida mansa.
Alguém sabe porquê? Eu não!
E lembro-me também das galinhas que escondiam-se em pequenas moitas de plantas, matos, folhas secas de canaviais ou qualquer canto que pudesse servir de esconderijo, para fazer os ninhos e botar seus ovos.
Ahhh! E a alegria do menino ou menina ao achar esse ninho e correr para contar a todos? Por uns momentos eles se tornavam importantes, iam à frente mostrar o achado, aí o pai, a mãe ou o adulto se abaixava e “solenemente” analisava os ovos. Que poderiam ser comidos ou deixados para chocar e dali a alguns dias aumentar o numero de galináceos em nosso quintal.
A poedeira oculta, que em silencio se afastava, botava seu ovo e voltava discretamente, sem um cacarejo, não era conhecida, nem exibida, nao tinha melhor ração e nem cuidado extra. Na mesa, a cesta de ovos sempre cheia…
Pois então, “do nada” me veio essa lembrança, e não busquem o seu significado.
Ela existe apenas na memória dos recordadores e a ela se dá o nome de memória afetiva.
B’ora comer uns ovos?