Se tem um dia que eu gosto, eu gosto mais ainda do dia anterior e do dia seguinte. Sim, porque há um encanto que mora nas bordas dos acontecimentos, ali nos minutos antes do salto e no respiro depois do mergulho.
Se é festa, o dia anterior é puro movimento: últimos arranjos, conferência de listas, compras apressadas, almoço engolido às pressas porque o tempo urge, marcar salão de beleza, verificar as roupas das crianças, fazer as checagens finais. É uma pressa que não cansa. Ao contrário, é uma urgência boa, que dá energia, como se a vida pulsasse mais forte nas vésperas.
Se é prova de faculdade, o dia anterior é biblioteca com as amigas, dicas dos sabidões da turma, coração disparado. É como se o corpo se preparasse para o salto, tomado por uma expectativa nervosa e cheia de adrenalina.
Se é cirurgia, consulta, visita ao salão, ou o que quer que seja o evento, o dia anterior é sempre um lugar à parte. Um lugar suspenso, fora da rotina. É o dia da expectativa.
E o dia seguinte?
Ah… melhor que o dia anterior, só o dia seguinte. Quando tudo já aconteceu e a gente pode enfim respirar.
É quando o corpo agradece e a mente repassa, satisfeita, tudo que deu certo ou tudo que ensinou. É quando percebemos que valeu a pena ter chamado aquela cozinheira, que as meninas estavam lindas, que a prova foi menos cruel do que o esperado, que na próxima consulta a gente já sabe: nada de marcar outro compromisso no mesmo dia.
O dia anterior e o dia seguinte de uma festa são, pra mim, o que há de melhor. Adoro!
E se tiver visitas de fora então? Aí sim fica melhor ainda; a casa se enche de outra energia, outro tipo de urgência, mais calorosa, mais humana. Coisas pequenas ganham importância: o colchão inflável, o café coado com capricho, o tempo esticado em conversas no quintal.
Estranho… essa sensação sempre me pareceu tão íntima que nunca comentei com ninguém.
Será que é coisa só minha? Ou será que todos, em silêncio, também têm esse carinho pelos dias que cercam os grandes dias?
Talvez sejamos todos assim: amantes dos intervalos. Porque é neles que a vida acontece devagar. No antes, mora a esperança. No depois, o entendimento.
E o durante… ah, esse a gente quase nunca percebe enquanto vive. Porque é o que faz pulsar o coração.