crônica erótica

  • A Calcinha de Ipanema

    Ela estava sentada com as amigas em uma mesa de um bar ali na Joana Angélica, esquina com a Vieira Souto, perto do Posto 9, e entrou no banheiro. Quando saiu de lá, tinha cara de quem tinha achado um poço de petróleo no calçadão. Foi logo anunciando a boa nova:

    — Olha aqui, gente… tá novinha!

    Exibia, triunfante, uma peça íntima branca e preta, imitando o desenho ondulado do calçadão de Ipanema.

    — Amiga, você tá louca? Onde achou isso?
    — No banheiro.
    — Credo, amiga… roupa íntima dos outros?

    Elas falavam alto, gesticulavam, e a peça passava de mão em mão. Garçons, clientes gringos na mesa ao lado, casais e outros grupos de amigos… todos envolvidos no mistério do objeto perdido. Ou teria sido abandonado?

    — Gente, quem será a doida que deixou isso no banheiro?
    — Uma gringa que experimentou o baile funk.
    — Deve ser uma turista, dessas que acham que estão em novela.
    — Amiga, mas pensa só: a mulher entra no banheiro e deixa isso lá. Pode isso?
    — Mas você esqueceu que toda mulher tem uma peça reserva na bolsa?
    — Ah, tá. Às vezes ela até guarda alguma impressão digital, né?

    O garçom trouxe mais uma taça de vinho e colocou uma bandeja com frutos do mar. Mas o mistério da peça perdida permanecia indissolúvel.

    — Amiga, devolve isso pro garçom?
    — Deve ser de alguém aqui.
    — Quer que eu vá de mesa em mesa? Ô, gente.
    — Para, amiga. Que vergonha.
    — Então, quem achou a peça fica com ela.

    Nenhuma delas se opôs.

    Ali, elas ficariam tomando vinho, sentindo a brisa do mar, jogando conversa fora. Sabiam que, no Rio, até uma peça perdida encontra seu dono — além de ser fonte de boas histórias.

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