Férias de mim

  • Férias de mim

    O poeta já disse que viajar é trocar a roupa da alma. Concordo! Aliás, no meu caso, creio que troco a pele da alma. Nunca retorno do jeito que fui. Algo sempre vem incrustado na derme: impressões, vivências, descobertas, perrengues, sorrisos. A experiência de viver, por uns dias, uma outra vida, ou uma outra perspectiva de mim, tem poder revolucionário. Mesmo antes do embarque, desfruto do gosto bom de uma vida paralela. Enquanto trabalho, vou ao mercado e à academia, esse outro eu, pulsante, desejoso, inquieto pesquisa as oscilações do euro, os pontos turísticos da minha nova paixão, faz listas do que levar para a viagem. Somos duas mulheres, com vidas distintas, interligadas por um corpo sedento de mar. Uma dá força para a outra feito grandes amigas:

    — Vai… trabalha, termina o curso, mantém a dieta, a viagem está chegando. 

    — Tá bom! E você, chegando lá, se entrega sem medo. Aproveita! 

    — Combinado. Mas me ajuda a te ajudar. Faz sua parte. 

    E assim vamos nós, nessa governança compartilhada, feita de incertezas e apostas. 

    No vôo escrevo essa crônica. Estou perto de aterrizar e assumir a prazerosa posição de turista, estrangeira, não pertencente. Aquela que oferece um olhar virginal para tudo que vê. 

    Adoro a ideia de passar dias em estado de surpresa. Mas também sei que, em breve, a hiperestimulação dos sentidos, em tempo integral, cobrará seu preço e a saudade do cotidiano, da minha cama, das pessoas que amo, do trabalho me inundarão de urgência. 

    Viajar é sempre um salto de braços abertos.

    Retornar é sempre um abraço apertado com sorriso nos olhos. 

    Viaje-se mesmo em terra firme. 

    Trocando de pele em 1, 2, 3.

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Desative para continuar