Lucas Arroxelas

  • O cronista em caça

    O cronista é um caçador, não o homem que sai com sua espingarda a fim de conseguir algo para comer ou por pura diversão pela morte. É um animal eternamente faminto e em constante situação de caça. A todo momento, está em busca da sua próxima vítima, que alimentará a si e aos outros.

    Ser esse caçador é consequência de ser cronista.

    Onde estiver, estará em caçada. Não importa a situação, o momento ou o lugar. Qualquer um pode ser propício, todos são capazes de lhe oferecer uma nova presa. Ele sabe disso, está sempre à espreita. Diante de um alvo que se mostre, não titubeia; na primeira oportunidade, irá agir.

    Por onde passa, segue perseguindo algo, que os outros não veem e ele, talvez, ainda não saiba ao certo. Não sai de casa necessariamente com o intuito de executar o apresamento subsequente. Entretanto, para onde vá ou onde se encontre, o gênio de cronista está agindo dentro dele.

    Não é caçador apenas por escolha ou por aptidão adquirida, mas por uma condição intrínseca, ínsita ao seu próprio ser cronista. Ela garante o sucesso na localização do alvo de cada empreitada, seja mensal, semanal ou diária; por obrigação ou puro deleite.

    O predicado disso está na procura constante, mas também, por vezes, não deliberada. Está no instinto e nos olhos que só podem ser encontrados em indivíduos dessa espécie. Possui um olhar particular, olhar de caçador, olhar de cronista, essencial para produzir novas presas. Ele não enxerga como os demais. Seus olhos de rapina são capazes de transformar o mais insignificante elemento em uma preia útil.

    Esconder-se ou se esgueirar são desnecessários. Para o bote, precisa de ouvidos vigilantes, visão precisa e argúcia em seu faro. Todos muito bem treinados e experimentados. Assim como os seus gadanhos, que, se não forem cultivados e afiados cotidianamente pelo predador, tornam-se ineficazes no assalto.

    Essa fera não distingue suas vítimas. Qualquer um pode vir a ser o próximo. Tudo lhe interessa, desde o gesto mais inocente à hecatombe mundial, do último acontecimento político ao café que coa todas as manhãs. Não há nada que não esteja passível de se converter no seu mais recente abate.

    Mal tendo digerido o último, já se lança à procura do seguinte. Seu ímpeto jamais cessa, precisa estar sempre em caça. E ele estará.

  • Voltemos

    Em 2023, o Crônicas Cariocas tirou um período sabático. No mesmo ano, praticamente no mesmo período, foi a minha vez, o momento de – mergulhado (ou afogado mesmo) em outras páginas da vida – me distanciar um pouco dos periódicos. Como um legítimo casal, demos uma pausa e saímos juntos para o recesso.

    Porém, o tempo passa e é necessário calçar a botina outra vez. Em nova situação, retorno à cronicidade que estava de férias e da qual sentia falta. E, tenho certeza, foi com saudades dos seus autores e leitores que o portal voltou, de nova cara e a todo vapor. Saudades que leitores e escritores também nutriam pela revista, que, completando 18 anos, ostenta o título de “maior portal de literatura do Brasil”. Não é para qualquer um.

    E, dessa forma, volta o Crônicas, sempre carioca e, mais ainda, brasileiríssimo. Como tal, sinto-me em casa. Afinal, torcedor do Vasco, amante de samba, leitor de João do Rio e cronista, tenho um quê de carioca, é ou não é? Assim como o Crônicas Cariocas tem uma boa dose de paraibano, a começar pelo seu editor, passando pelo mestre Chico Viana. Com estes e com outros tantos, reencontro-me nesta bancada.

    Carioca, paraibano, pernambucano, mineiro, paulista, um pouco disso tudo há. E o que se procurar, achará. Pois o que ele mais tem – e toda boa crônica é assim – é de universal. Em cada esquina do texto, topamos com todas as esquinas do mundo e com todo o coração que pesa na terra. Uma vez que a crônica é universal, daquela universalidade da experiência humana, que se encontra e é acrescida em cada linha lida. Aqui, ali ou acolá, que a crônica esteja em nossos peitos e mentes, é aí onde ela deve estar.

    Mas deixemos de divagação, rufem os tambores. Cidadãos do mundo, amantes das letras, vivos e viventes, avisem a todos ou a ninguém: estamos de volta.


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