Pai vamos fazer panqueca? A pergunta-convite me acendeu os olhos de alegria!
Chequei se tinha tudo que ela precisava. Sim, nada faltava. Peguei um avental para cada um e fomos à cozinha. Estava radiante, afinal cozinharia com uma de minhas filhas. Prometi ser seu assistente.
Abri o livro com a receita, ela se inclinou sobre a página, concentrada. Separou os ingredientes, testou os ovos (Não sabe como faz? Põe na água, se boiar joga fora). Se enrolou um pouco com aquela estória de colher de café, de sobremesa e de sopa.
Mas quando começou a operação percebi que estava diante de alguém de padrão muito elevado. A farinha foi medida no copo medidor com uma precisão de deixar qualquer câmera de trânsito, daquelas que flagram os infratores, no chinelo.
E os ovos? Nem na próxima encarnação serei capaz de quebra-los com aquela eficiência. Nem um caquinho da casca caiu no liquidificador.
Depois de misturar a massa – o que é mesmo homogênea, papai? – chegou a vez de aquecer a frigideira. De primeira, ligou o fogão com uma intimidade de chef de cozinha.
E veio o toque especial: com um gesto quase diáfano estendeu uma camada fina de massa na frigideira. Eu ali, em silêncio reverencial, porque as minhas são grossas como sola de sapato. Fez umas seis panquecas, fininhas, deliciosas. A irmã comeu, gostou, elogiou pouco, levantou da mesa e sumiu. Ficamos nós dois. A chef e seu assistente.
Eu comi encantado. Enebriado. Afinal, cozinhar com filha pré-adolescente não tem preço.
Já ela, compenetrada, comia avaliando sua obra recém concluída.
Quando terminou me mirou com olhar blasé e soltou: ficaram boazinhas. Eu prendi o riso.