Videomakers

  • Videomakers ou a arte de surpreender seu pai (mais uma vez)

    Minha competente editora me manda um recado por escrito: tu precisas fazer um vídeo promocional do teu livro para jogarmos no Tik Tok. Ela é gaúcha, do Alegrete, e com gente da fronteira não se brinca. Se ela disse “tu precisas” é porque nem quero pensar o que pode me acontecer se não o fizer.

    Me aprumei decidido a cumprir a tarefa. Peguei o celular, olhei para ele e ele para mim. E nada. Fiz uma careta pensativa imaginando como fazer o vídeo. Ante o vasto deserto de idéias que se apossou do meu ser admiti para mim mesmo: sou analfabeto em fazer vídeo ou selfie.

    Quando seguro a câmera tenho a firmeza de uma gelatina e transformo qualquer depoimento em noticiário de terremoto. Não rola química entre nós dois.

    Mencionei o pedido para minhas filhas que riram de mim. Diante da chacota juvenil, não pensei duas vezes. Convoquei as duas para a tarefa. Já que ficam tirando onda com a minha cara dizendo que papai é um dinossauro agora quero ver. Sabidas!

    Bom, me surpreendi. Sem perder tempo já foram posicionando a cadeira onde me sentaria, trouxeram luz, ajustaram o ângulo para tirar o reflexo nos meus óculos. O texto do vídeo era meu mas elas corrigiram e, quando derrapei e quis fazer de novo foram autoritárias: nada disso, precisa ser natural, pai!

    Obediente, não insisti. Ainda gravamos imagens sem fala para o pessoal da edição ter material. E pronto. Recolheram tudo e se foram tratar de suas vidas cada uma em seu quarto.

    Eu fiquei mais uns minutinhos na sala, livro na mão, suspirante. Mudo.

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