Nem bem entrou no vagão do metrô, você ouviu os aplausos. Os passageiros que lá estavam o olharam e começaram a bater palmas em sua direção. Quem lia dobrou o jornal, os outros olhos saíram da tela do celular e todos passaram a aplaudir, aplaudir. Os velhos sorriram e balançaram a cabeça em aprovação. As crianças se assustaram com o barulho. Os jovens eram os mais estridentes, juntaram gritos e assovios aos aplausos. Era um modo teatral de aplaudir, pausado, ritmado, uníssono, como costuma acontecer no final de uma peça, em que os atores saem do palco e voltam em seguida para agradecer outra vez o entusiasmo do público.
Como um bicho solitário dentro de uma jaula, sentindo o peso do olhar de todos, você não sabe se sorri ou se cobre o rosto, envergonhado. Não sabe se mostra gratidão pelos aplausos. Não sabe por que está sendo ovacionado. Você não sabe nada.
Na estação seguinte, mal as portas se abriram, você saltou e correu desembestado pela plataforma. Não olhou para trás, não quis sofrer mais do que sofre diariamente. Mirar-se no espelho todas as manhãs e confirmar o engodo e a fraude em que tinha se transformado já era doloroso demais. Que isso tivesse se tornado público era insuportável. Perceber que esse mesmo público o aceitava como tal era um escândalo.
Baggio é dono de um estilo único de se fazer bons contos. Parabéns pelo retorno ao Crônicas Cariocas.