Crônicas

Meu Radinho do Vasco

A primeira vez foi em 2009, primeira do Vasco na segundona e primeira em que o radinho me prestou seus serviços. No ano anterior, o Almirante havia sido rebaixado em pleno São Januário, correram lágrimas na colina e aqui em casa. O momento de dor desacostumada passou, o torcedor não pulou e eu não cumpri as promessas feitas no desespero daquele momento.

Se o instante da queda suscitou dor e revolta, jamais poderia conduzir a que se deixasse de lado o clube. Além de torcer por ele ou até o amar, ser vascaíno é ter o Vasco como uma condição ontológica inescapável. Nada melhor para representar isso do que a frase do letrista e cronista vascaíno Aldir Blanc: “Se for para a Segunda Divisão, sou Vasco. Se for para a Terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco.”

Jogando a Série B, precisaria continuar acompanhando os jogos com frequência, foi aí que entrou esse utensílio, que tantas vezes já foi condenado ao ostracismo e que tanto resiste em ser atual. Comprei um radinho de pilha com as cores e o escudo do Vasco.

Nesse ano, abandonei a Série A e passei a acompanhar exclusivamente a segunda divisão. Ora, se o time de São Januário não joga a primeira, não tenho motivo para a assistir. Em mesas de bares e entre amigos, sempre disse: “gosto mais do Vasco do que de futebol”. Minha relação com o esporte sempre foi uma parte da minha relação com o clube.

Para mim, o futebol em 2009 significou acompanhar o Gigante da Colina na segunda divisão, sempre por meio do meu radinho. Mas, no mesmo ano, conquistamos o título e o acesso. Muito grato pelo seu contributo, mas com a intenção de nunca mais precisar dele, guardei o aparelho. Como todos os torcedores, tinha a crença e a esperança de que aquela presença na Série B havia sido uma estada única, uma escorregadela na história do time cruz-maltino, algo que jamais viria a se repetir.

O rebaixamento em 2008 seria apenas uma nódoa na nossa trajetória, um ano a ser superado e esquecido. Algo do tipo jamais voltaria a acontecer. Era o que pensávamos e ansiávamos. Mas veio 2013, 2015, 2021 e,… agora, 2025.

Já calejados com a segunda divisão e com desapontamentos futebolísticos, caminhamos para a quarta vez jogando a Série B. Quarta vez do meu radinho de pilhas do Vasco. Chegou a hora de, novamente, reabilitá-lo. Lá vou eu atrás do meu velho companheiro, carregando o amor pelo Vasco no meu peito e tendo a Cruz de Malta como o meu pendão.

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Lucas Arroxelas

Lucas Arroxelas é poeta, cronista e historiador. Nascido em João Pessoa, hoje, divide-se entre esta cidade e Recife, onde realiza o seu doutoramento na UFPE. Sua produção literária perpassa especialmente a poesia e a crônica. Além de textos em livros coletivos e revistas, publicou De tudo, nada (poesia, 2021, Editora Ideia) e Quadro crônico(crônicas, 2023, Penalux). Formou-se em História na UFPB e desenvolve pesquisas sobre o período colonial, notadamente acerca da Paraíba nos séculos XVII e XVIII. É também membro da UBE-PB.

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