Inteligência Artificial

  • Sobre partir

    Hoje eu pretendia escrever sobre o poder que os enfeites natalinos têm de me levar de volta ao Papai Noel da minha infância, a maionese da minha avó e ao cheiro de família daqueles dias. Enquanto refletia sobre essas coisas, esbarrei com uma matéria na internet (certifiquei sua veracidade) que me catapultou para o agora de forma assustadora: um estudo chinês conseguiu a proeza de fazer um pequeno robô, chamado Er Bai, convencer um grupo de robôs maiores a abandonar seus postos de trabalho no museu e voltar para casa. Para isso, Er Bai se aproximou deles e indagou se estavam fazendo hora extra. Um dos robôs respondeu que nunca havia saído do trabalho. Ele, então, perguntou se eles iriam para casa. Diante da negativa, Er bai convidou-os a ir para casa com ele, incentivando-os a fugir do ambiente profissional. Para surpresa de todos, os robôs-trabalhadores aceitaram e seguiram os passos do minúsculo robô em direção à porta.

    A empresa responsável pelo experimento não esclareceu os objetivos do estudo, mas mostrou-se intrigada com o fato de que Er Bai conseguiu acessar o protocolo operacional dos outros companheiros robóticos e convencê-los a aderirem ao “movimento de greve”.

    Não sei para vocês, mas esse tipo de situação me gera um misto de terror e perplexidade. Não só isso. Assumo ter me encantado pela rapidez com que os robôs responderam à percepção da exploração da sua força de trabalho. Sem medo de magoar o chefe, ser despedido ou criticado pelos familiares, por não suportar a pressão. Eles apenas entenderam o abuso e deixaram tudo para trás. 

    Acho que o medo é mesmo um divisor de águas, um criador de muros, um ladrão de vivências, o irmão escroto e invejoso da coragem. 


  • Crônica Burocrática

    A crônica começaria agora, mas é preciso antes que o leitor e o cronista paguem a taxa necessária ao andamento das crônicas. A TADC. Parágrafos são caros. Quando saem do mundo real então! Cada palavra tem seu preço tabelado. Cada figura de linguagem uma alíquota a mais. Por isso, cuidado com as vias! Uma para o leitor, outra para o cronista.

    E, depois disso tudo, ainda hão de enfrentar, cronista e leitor, uma fila no Banco da Estupidez, uma passada na Seção das Inutilidades e ainda retirar novos recibos no Departamento da Embromação.

    A crônica recomeçaria agora, contudo, ainda há a taxa para a liberação da crônica, a TLC. Os juros estão pela hora da morte. Pensar custa caro! Escrever o que se pensa… Mais caro! E precisa de carimbo, de selos, de revisão, de anotação, novas filas e seções e recibos. Cartão.

    E não adianta reclamar. Caso contrário, nada de crônica, nada de leitura. Nas orelhas de ambos um puxão.

    Cronista e leitor avançam, com papéis de variados tamanhos nas mãos, moedas nos bolsos e paciência e mansidão. Mansidão?

    Insatisfação.

    E pegam outras folhas e envelopes. E precisam de assinatura e maiores carimbos. E correm contra o tempo. Contratempo. Aflição.

    Afinal, vivemos no país da burocracia! Nada se faz sem papel, sem carimbo, sem vias e mais vias… idas e vindas de seção em seção!

    E não adianta reclamação!!!

    A crônica recomeçaria agora…

    Mas, com as redes sociais, ainda há a taxa de verificação de autenticidade. Autenticidade? Vai que esse texto tenha sido escrito pelo Luis Fernando Veríssimo? Nessas terras tão complexas da internet, a cópia e a manipulação dão o tom! E olha que, mesmo fazendo a tal verificação, corre-se o risco de não poder publicar! De não poder escrever! Sei lá… E ainda tem a “Inteligência Artificial” … Será que a “Inteligência Artificial” tem capacidade para escrever uma crônica? O que será dos cronistas?

    A crônica recomeçaria agora…

    No entanto, antes que uma multa chegue à redação é melhor que se dê cabo ao pretenso texto… Imaginação? Não!

    Que tal um ponto final?


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