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( )… e no silêncio da inexistência, também nutrimos sentimentos vivos:
— a presença que não está mais, mas persiste;
— lembranças em fotografias,
— objetos humanizados: as roupas – que podemos vestir, a qualquer hora, em busca de abraços —, o perfume, alegoria perfeita, as coleções pausadas e e empoeiradas;
— a poeira, que coça, nos coça, permanece;
— o barulho das chaves;
— o som dos passos pisados pela sola dos chinelos de dedo;
— vozes;
— o amor, tal tatuagem indelével na alma dos que ficam;
— o amor próprio, que de nada parece valer;
— o vazio, sensação inquieta de imobilidade, desagradável, além da conta;
— as dores emocionais que afetam o corpo;
— a baixa imunológica;
— as flores que perdem suas cores;
— todas as plantas que amarelam suas folhas;
— as contas que não cessam, em nome dos que já não existem;
— a cama, o sofá, a netflix;
— o celular, de lado – é inútil;
— o relógio, controverso em seus negócios com o tempo;
as cartas, na caixa de correios
ao lado das cinzas.
no silêncio da inexistência, a vida é um breve e eterno hiato branco, no qual vestimos nossos corpos de amálgamas incertos que somam todas as cores, escravizando em nós os dias, que não anoitecem.