Poesias de 1 a 99

#10 – TECNO-POEMA

.

– Fala o poeta de vanguarda:
A estrutura do verso
está invertida
em meu caleidoscópio.
Preciso de uma máquina
rápida e perfeita para
fazer uma circuncisão mental:
“Quero que a estrofe
gravada ao jeito
do vídeo cassete
saia nítida,
sem um defeito”.

– Fala a crítica especializada:
A infraestrutura do verso
está evoluída
em meu laboratório.
Preciso de um computador
rarefeito e sem defeito
para efeito de análise poética:
“O crítico é um digitador,
digita tão completamente
que chega a digitar a dor,
a dor que sua mãe sente”.

– Fala o homem pensante:
A superestrutura dos acima
está equivocada
em minha concepção histórica.
Preciso de uma filosofia
autêntica e própria agora
para escrever um poema-amostra:
“A sombra projetada de um homem
exclui o mecanismo da repetição alheia,
pois a condição intrínseca dele mesmo
exige que seu poema se faça de ideias
e despreze a vida enquanto justificativa
para o erro de se caminhar junto ao tempo”.

– Fala um observador imparcial:
Poesia significa
abrir caminho para o abismo
e pedir que nos devolvam
o nosso sonho antiatômico.

O Acaso das Manhãs

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Milton Rezende

Milton Rezende é poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, morou em Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quinze livros publicados. Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).

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