Crônicas

Moça de azul no metrô

A moça estava de azul na plataforma da estação do metrô. Um vestido leve e elegante. Os sapatos bem cuidados, brilhavam até. Uma bolsa completava com elegância o quadro que tinha diante de mim.

Próximo a ela, lá estava eu. Não tão próximo a ponto de aspirar seu perfume mas o suficiente para ver seu rosto em detalhes.

A discrição séria em mim lutava freneticamente com a curiosidade romântica pelo direito de olhar a moça com intensidade para capturar suas expressões. Mas não era noite de romance, não para mim, e por isso a discrição venceu e me pus a espia-la ocasionalmente.

Sua expressão mostrava alguma tensão. O que aconteceria naquela noite? Seria o primeiro encontro? Ou o mais importante?

Capturei um suspiro leve. Ansiosa. Com o quê? Ou com quem? Ou com quem e com o quê? A incerteza do encontro, do que estava por acontecer. Mais um suspiro.

Seria com um rapaz? Ou com uma moça? Pouco importava, a moça de azul no metrô estava concentrada em imaginar o que estava por vir.

Decepção? Confirmação? Ousadia? Dela ou da outra pessoa? Ou seria um balde de água fria e ganharia nada além de um beijinho casto no rosto? Ah, dúvida…

E veio o metrô. Entramos no mesmo vagão. Atrevido tentei por um instante captar seu perfume. Em vão. Nada senti, mas tenho certeza que devia ser uma fragrância suave, como seu olhar sonhador; e intensa, como sua esperança pelo encontro.

Ela desceu duas estações antes do meu destino. Não olhei na direção dela. Virei o rosto para o outro lado. Para mim bastava o momento único que presenciei.

Um último suspiro, agora meu, e fui para o cinema. Em companhia dos meus pensamentos e desejando tudo de bom à moça de azul do metrô.


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Fernando Neves

Fernando Neves é carioca, nascido em 24 de setembro de 1965, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Mora na cidade de São Paulo, continua Tricolor de Coração, é separado duas vezes e tem filhas gêmeas do segundo casamento. Jornalista profissional, desde os tempos no Colégio Pedro II sempre se interessou pelas letras, seja como leitor ávido seja como aprendiz de escritor. O jornalismo abriu a oportunidade de escrever e praticar mas não foi suficiente para seu desejo de escrever cada vez mais. As opções de forma são a mininovela e o conto. O estilo adotado pelo autor compreende um arco que inclui suspense, humor, conspiração e realismo fantástico. Semanalmente ele exercita sua paixão pela crônica e poesia publicando em seu instagram @fernandonevesescritor.

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