Moça de azul no metrô
A moça estava de azul na plataforma da estação do metrô. Um vestido leve e elegante. Os sapatos bem cuidados, brilhavam até. Uma bolsa completava com elegância o quadro que tinha diante de mim.
Próximo a ela, lá estava eu. Não tão próximo a ponto de aspirar seu perfume mas o suficiente para ver seu rosto em detalhes.
A discrição séria em mim lutava freneticamente com a curiosidade romântica pelo direito de olhar a moça com intensidade para capturar suas expressões. Mas não era noite de romance, não para mim, e por isso a discrição venceu e me pus a espia-la ocasionalmente.
Sua expressão mostrava alguma tensão. O que aconteceria naquela noite? Seria o primeiro encontro? Ou o mais importante?
Capturei um suspiro leve. Ansiosa. Com o quê? Ou com quem? Ou com quem e com o quê? A incerteza do encontro, do que estava por acontecer. Mais um suspiro.
Seria com um rapaz? Ou com uma moça? Pouco importava, a moça de azul no metrô estava concentrada em imaginar o que estava por vir.
Decepção? Confirmação? Ousadia? Dela ou da outra pessoa? Ou seria um balde de água fria e ganharia nada além de um beijinho casto no rosto? Ah, dúvida…
E veio o metrô. Entramos no mesmo vagão. Atrevido tentei por um instante captar seu perfume. Em vão. Nada senti, mas tenho certeza que devia ser uma fragrância suave, como seu olhar sonhador; e intensa, como sua esperança pelo encontro.
Ela desceu duas estações antes do meu destino. Não olhei na direção dela. Virei o rosto para o outro lado. Para mim bastava o momento único que presenciei.
Um último suspiro, agora meu, e fui para o cinema. Em companhia dos meus pensamentos e desejando tudo de bom à moça de azul do metrô.