Não deixei de brincar pelo medo de cair, nem de sorrir depois de receber um “carão”.
Não deixei de assistir a desenhos por perceber que estava perdendo tempo em frente à TV.
Não deixei de falar com meus pais sobre como foi meu dia, mesmo que para eles fosse apenas um dia qualquer.
Não deixei de me enturmar, mesmo percebendo que não era bem-vinda.
Criança não tem filtro. Por vezes, ouvimos que as crianças são páginas em branco que precisam ser preenchidas com uma vida idealizada pelos pais. A gente só entende o “ser criança” observando uma.
Na beleza da sua inocência infantil, a gente é quem aprende, em vez de ensinar.
Embarquei na decoreba das tabuadas e na escrita torta no quadro de giz. Mal sabia eu que, aos pedidos de biscoito recheado e à vontade de não mais largar minha amiga da escola, não existia comparação nem competição; a gente apenas queria passar de ano e desejava que o recreio não acabasse.
A palavra futuro era um palavrão que aparecia no livro de português nas conjugações dos verbos.
Tínhamos de distinguir bem o que era o futuro do pretérito, ou futuro do presente. E o que dizer do pretérito mais-que-perfeito? Sempre achei bonita essa composição de palavras, mas, ao pé da letra, existe um passado mais-que-perfeito?
A vida podia ser simples, mas profunda. Não havia artifícios; apenas tudo acontecia naturalmente. O medo vinha, mas bastava fechar os olhos bem forte e se cobrir com o lençol para que tivéssemos um mundo só nosso, na nossa imaginação fértil.
Deus quis que a fase mais feliz fosse a infância, para que entendêssemos sobre a pureza, dependência, restauração, lealdade e amor incondicional.
Hoje não é um dia de tributo ao Peter Pan, mas quem sabe a gente aprendeu mais na idade em que tudo era uma brincadeira, onde nada era tão sério, a não ser o amor desmedido dos pais e a preocupação deles ao perceber que não íamos bem na escola, sabendo que só queríamos brincar e deixar o dever pra lá.
Seja bem-vinda ao portal Crônicas Cariocas. Já estreia com um texto excelente.