Crônicas

Direto ao ponto

Falta de objetividade é uma característica, no mínimo, enervante! Ela se manifesta de várias formas, em diferentes situações, e não é típica do avanço da idade, muito menos da falta de capacidade intelectual. Como diriam os advogados em suas argumentações, senão vejamos:

Às vezes ela é um subterfúgio do interlocutor que não entendeu a pergunta ou o assunto a ser tratado, então responde com evasivas para ganhar tempo. O mais comum é a pessoa simplesmente olhar para você e repassar a sua pergunta, do tipo:

P: O que você achou da trama desse filme que ganhou o Oscar?

R: O que achei da trama desse filme que ganhou o Oscar?

Em outros casos, é pelo simples gosto que algumas pessoas têm de compartilhar sua excelente memória, fugindo totalmente ao tema para contar um caso que vem de Adão e Eva.

P: O que você achou da trama desse filme que ganhou o Oscar?

R: Bem… ele me fez lembrar de uma tia minha, sabe, tia Cotinha? Então, ela tinha uma funcionária que fazia uns bolinhos de chuva deliciosos. Eram de comer rezando! Ao final da tarde, quando meus primos estavam nos visitando e era comum isso acontecer, pois moravam perto de casa, sentávamo-nos para assistir a um filme na sala de televisão, e esperar pelos bolinhos que vinham quentinhos, polvilhados de açúcar. Então, posso te dizer que refleti bastante sobre essa trama, infelizmente sem os bolinhos de chuva, e blá, blá, blá…

E ainda existem aquelas criaturas que não aprenderam a sintetizar uma ideia, dão a resposta correta, porém utilizando mil e quinhentas palavras quando o esperado era um sim ou não.

P: O que você achou da trama desse filme que ganhou o Oscar? Gostou?

R: Veja bem… (se começar assim, pode se sentar e esperar, pois a explicação será longa). Em se tratando da ambientação, acredito que reproduziu fielmente a época, pois reparei que o jardim da casa tinha variedades de plantas não comuns ao paisagismo contemporâneo. Isso sem falar na escada de madeira bastante íngreme que subia para o segundo piso e fazia uma curva acentuada, típica das residências antigas. Agora, em relação à trama, considerando o contexto em que se desenrola, eu gostei bastante, porque blá, blá, blá…

Sou vítima várias vezes dessas três modalidades e vocês?

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Ana Helena Reis

Ana Helena Reis é paulistana, pesquisadora e empresária, com extensa produção de textos acadêmicos. Em 2019 começou a se dedicar à escrita literária e à ilustração de seus textos em prosa: contos, crônicas e resenhas, relacionados a fatos e situações do cotidiano. Publica em seu blog, Pincel de Crônicas, em coletâneas, e revistas eletrônicas. Em 2024 lançou seu primeiro livro solo, Conto ou não conto, pela editora Paraquedas/Claraboia, e, em Espanhol, Inquietudes Crónicas, pela editora Caravana/Caburé.

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