Crônicas

Do anonimato e outras não-percepções modernas

Em meio a muitos, me diluo. Entre tantos, sou menos que um. Passo despercebido aos olhares. Percebo que alguns olhos passam por mim. Eu noto esses olhares discretos. Olhos que não me registram em sua retina. Não focam em mim porque não me percebem. Minha imagem sumirá da lembrança deles antes que percebam. Lembrança efêmera, tão consistente quanto a névoa diáfana que sobe do cubo de gelo.

Nenhum registro, nem o da minha voz. O que eu disse não foi escutado. Se fui ouvido, minhas palavras não ficaram na memória. E se algo permaneceu gravado, será atribuído a outra pessoa aparentemente mais presente.

Os atos que fiz não deixaram rastros. Nenhuma pegada. Nada será atribuído a mim mesmo tendo feito algo. Minhas realizações não ecoarão na eternidade. Ou serão creditadas a outros. Sou capaz de ir antes, vasculhar e retornar acompanhado sem que percebam que lá estive. Completamente despercebido exploro sem ser notado. Vejo, sem ser visto. Nada de especial, perfeitamente mimetizado na paisagem.

Mas estou ali. Estive ali. Ocupei espaço, me movimentei. Mesmo ignorado.

Anônimo, eu sou.

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Fernando Neves

Fernando Neves é carioca, nascido em 24 de setembro de 1965, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Mora na cidade de São Paulo, continua Tricolor de Coração, é separado duas vezes e tem filhas gêmeas do segundo casamento. Jornalista profissional, desde os tempos no Colégio Pedro II sempre se interessou pelas letras, seja como leitor ávido seja como aprendiz de escritor. O jornalismo abriu a oportunidade de escrever e praticar mas não foi suficiente para seu desejo de escrever cada vez mais. As opções de forma são a mininovela e o conto. O estilo adotado pelo autor compreende um arco que inclui suspense, humor, conspiração e realismo fantástico. Semanalmente ele exercita sua paixão pela crônica e poesia publicando em seu instagram @fernandonevesescritor.

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