Quanto custa vencer?
Quem desfila em escola de samba ou torce por uma, sabe a tensão que é aguardar o momento da apuração na Quarta-Feira de Cinzas.
Quem não é folião, mas já aguardou um resultado importante, seja de concurso, campeonato, teste de gravidez ou habilitação para dirigir, entende bem a agonia que me refiro: uma espécie de cócegas misturada a uma comichão intensa, seguido de um aperto no estômago, a repercutir numa certa bambeira nas pernas e um escorrer de suor no trajeto das costas. O pensamento também se envolve nesse parangolé: a cada 15 minutos, furando a fila de outros pensamentos, surge: será que venceremos? Será que o meu melhor foi suficiente?
Talvez o remédio para essa agonia seja pensar no trabalho realizado, na entrega ao longo dos meses, no vivido durante o percurso. Mas, no final das contas, o resultado é sempre soberano, ainda que nem sempre seja justo ou corresponda a realidade.
Somos reféns da validação dos números, do reconhecimento do outro, da aprovação dos grupos. Vítimas de uma necessidade visceral de ser, a todo instante, muito mais do que somos. E por quê?
A maldição é tamanha!
Quem nunca sentiu o desconforto de viver no perímetro do próprio corpo, feito quem passa o dia num sapato que aperta o calo ou arranca a pele do calcanhar?
Essa é a única crítica que faço ao Criador: deveríamos nascer com um dom nato para nos amarmos profundamente; e ainda mais intensamente quando diante de demandas e expectativas contrárias à expressão genuína de quem somos na íntegra. Assim, mais do que viver em estado de tensão/avaliação, aguardando o boletim social, a aprovação final, viveríamos na tranquilidade de um lar interior sereno, com uma compaixão sincera pelos infelizes que não fossem capazes de nos aceitar in natura. Mas a competição, a inveja e a mania de perfeição parecem ser o que há de mais resistente e duradouro no DNA da humanidade. Que pena!
Volta o desassossego: será que a Imperatriz vai vencer? Seremos campeões?
Ah, como desejo sentir essa alegria…
Se não acontecer, que diferença faz? Não foi tempo perdido, foi tempo vivido, suado amado, crescido. Continuará sendo minha rainha, e no próximo carnaval, novamente, estarei lá.
Já é hora de entender que frustrar-se faz parte do que chamamos existência. É decepção, mas, não é destruição ou desilusão. É possibilidade de recomeço, reinvenção, retomada.
Feito purpurina, brincando no ar ou caída no chão, é brilho que não deixa de brilhar.
Ah, como quero sentir a grandeza de ser feliz por ter vivido mais do que por ter vencido.
Sei que você, leitor, quando encontrar esse texto, que será publicado no sábado, o resultado já será conhecido, o futuro de agora será passado, mas eu precisava dividir minha angústia e minha promessa com alguém de minha confiança.
Puxa…tenho certeza de que você desfilou como se a sua escola e vc fossem campeãs.
Sim! Importante lembrar que a alegria está na caminhada, não necessariamente na chegada!
Sim! Importante lembrar que a alegria está na caminhada, não necessariamente na chegada!
“Não foi tempo perdido, foi tempo vivido, suado, amado, crescido”
É como dizem: Mais importante do que o destino, é curtir a caminhada.
Adorei a reflexão . Parabéns !!!
Sempre tive vontade de sair mas nunca saí , só assisti e pude sentir o quão mágico é este “terreno ” , as pessoas ao redor , cantando de olhos fechados seus “hinos” mexeu comigo. E agora nesta bela crônica,viajei mais profundamente no personagem de quem desfila e vive de verdade esta “saga” . Amei a viagem ! Obrigada por partilhar!
Obrigada pela confiança!!!
Acredito que fazer parte de uma escola de samba e levá-la para avenida, seja uma emoção indescritível.