O nome do negócio é Reveride. Uma pílula azul-turquesa, lisinha, meio translúcida, parecendo bala de hortelã gourmet. E a promessa? Simplesmente esta: você escolhe com quem quer sonhar, o cenário, a trilha sonora — tudo sob medida, como um delivery de delírio.
Na primeira noite, fui de Emmanuelle, interpretada por Sylvia Kristel, claro — aquela do olhar lânguido e voz de cigarro francês. Estávamos num hotel à beira-mar em Saint-Tropez, quando ela apareceu de biquíni, sentou no guidão da minha bicicleta e mandou eu pedalar devagar. E eu, obediente, pedalei como se o paraíso fosse logo ali na curva.
Na noite seguinte, o algoritmo me leu por dentro e trocou a musa. Veio Mônica Bellucci, em carne, osso e vestido colado de “Malèna” — aquele filme que tirou minha virgindade cinematográfica e me deixou três dias sem conseguir olhar uma bicicleta sem tremer. Ela passou por mim em câmera lenta, cabelo ao vento, e eu senti na espinha a puberdade inteira voltar.
Depois veio Leila Diniz. A de “Todas as Mulheres do Mundo”, claro — deusa absoluta dos meus delírios juvenis. Foi por causa dela que gastei pequenas fortunas na locadora do bairro, sem contar os atrasos e as multas acumuladas como pecados reincidentes. Só pra ver aquela cena outra vez, e mais uma, e só mais uma, juro que é a última.
Mas, no sonho, a atriz favorita não tirava a roupa — me dava um biscoito, um abraço e um beijo na bochecha. E era isso. Nada de gemidos, só um cafuné e cheiro de bolacha de maizena.
Ah, mas quer saber? Ruim não era. Tinha um conforto ali, meio bobo, meio materno, como cochilar no sofá com novela ao fundo. Era desejo reciclado em ternura.
No outro dia, o cenário mudou. A filha do vizinho, aquela que nem me cumprimentava, apareceu de biquíni, com o olhar misterioso, e me levou para o quarto. Chegando lá, se transformava num gorila gigante, me arrastava para um circo bizarro e começava a me fazer correr em volta da lona, enquanto socos iam estourando nas paredes. Eu fugia, tentava me esconder, mas era como se ela estivesse sempre atrás, esperando o momento certo para me caçar. Quando eu acordava, suando frio, o som do punho batendo na parede ainda ecoava na minha cabeça.
Por fim, larguei o Reveride e as fantasias. O desejo, esse touro bravo, recusa-se a ser domado, previsível, clichê. Eu, que nunca tive vocação para toureiro, prefiro hoje a vida real — imprevisível, cheia de surpresas. Algumas boas, outras nem tanto. Mas é a vida que se entrega, sem promessas, sem pílulas mágicas. Só o que é, e o que virá, para bem ou para mal.