Poemas

  • Poesias de 1 a 99

    04# – RÉQUIEM I

    Estou hoje calado
    como se houvesse
    roubado o silêncio
    dos mortos.

    Estou hoje tranquilo
    como se a calma
    fosse um atributo
    dos homens enfermos.

    Estou hoje festivo
    como se estivesse
    numa festa, e lúcido,
    como se a lucidez
    fosse a própria festa.

    Estou hoje vencido
    como se soubesse a verdade
    e sozinho vou indo mesmo
    a uma festa, atendendo ao
    convite dos mortos.


    05# – RÉQUIEM II

    cérebro inchado
    em recônditas gavetas,
    minha cabeça não deixa
    de doer. fui de mim
    o meu maior inimigo.


  • Poesias de 1 a 99

    002# – AGUACEIRO

    A chuva cessou de chover
    e já agora eu posso
    tirar as mãos dos bolsos
    e atravessar a rua.

    Mas já não tenho mãos
    e nem tampouco posso
    atravessar esta rua, pois
    a água levou-me as pernas.

    E a rua, embora chovida, está seca.
    Eu fui a chuva que choveu e ninguém viu.

    Milton Rezende in “O Acaso das Manhãs”


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