Poesias de 1 a 99

#011 – Quando acordei do coma parece que entrei num pesadelo

Quando acordei do coma
eu já não tinha mais
a mobilidade de antes.
Olhei para as paredes
de vidro do isolamento
e já não tinha a mesma visão
de antes
a mesma audição
de antes.

O mundo parecia ser outro.

Perna e braço direitos
estavam paralisados,
dormentes e um sono
de letargia na noite
fria com pedras de gelo
no peito, do lado
esquerdo, assim penso.

O mundo já não era o mesmo.

Dois dedos do pé esquerdo
haviam sido afetados
e minhas afeições e
percepções já não eram
as mesmas. Fúria de
não ter sido antes.

Minha intimidade
e meus defeitos haviam
sido expostos como
escaras do tempo.

Nunca mais quis tirar fotografias.

Havia um corpo estranho
no meu corpo fragilizado
e uma tela no estômago
de baixo para cima eu havia
sido atingido por um golpe
do destino e várias cirurgias.

Não tinha mais condições
suficientes para poder
trabalhar, sobreviver
e tive que depender
de apoio, de cestas básicas
da vida como um doente
a quem falta alguma coragem.

Remédios para a goela grande das farmácias.

Acordei como quem entra no pesadelo
e já não podia sonhar acordado ou dentro
de uma noite normal e previsível.
O eixo de tudo continuava gasto
como o eixo do mundo, ANTES.

Da Essencialidade da Água

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Milton Rezende

Milton Rezende é poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, morou em Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quinze livros publicados. Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).

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