Poesias de 1 a 99

#08 – A Ilha

.

A ilha com seu silêncio
me comunica a morte
dos seres espectrais
que nela vivem ou já viveram.

A ilha cercada por mangues
é um poço de lama e óleo.

Os pescadores da ilha
me comunicam o fim
dos pescadores da ilha.

Os pescadores da ilha
me apresentam a pesca de um dia,
nada.

A ilha com sua morte
me comunica o silêncio
dos seres superiores
que a mataram e matam.

A ilha abandonada pelos banhistas
é um deserto de espuma e água.

Os frequentadores da ilha
me comunicam o desastre
das praias da ilha.

Os frequentadores da ilha
me apresentam o bronzeado de um dia,
petróleo.

A ilha com sua sorte
me comunica o crime
dos seres continentais
que seguem impunes.

Os pescadores da ilha
me comunicam o fim dos peixes
e voltam tarde para casa.

O Acaso das Manhãs

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Milton Rezende

Milton Rezende é poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, morou em Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quinze livros publicados. Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).

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