Crônicas

O tamanho de seu ressentimento!

O ressentimento nasce dentro da culpa que o indivíduo criou, em detrimento de algo que alguém pretensiosamente provocou para chegar em sua condição atual inaceitável. O mais difícil é entender porque isso não passa. A versão provável desse drama é a de que essa queixa se mantém porque ele terá que assumir que foi ele quem fracassou em algum momento, e não os outros que provocaram o problema.

A pintora Maud Lewis, foi retratada no filme “Maudie”, que narra sua vida de artista em Nova Scotia no Canadá, passada com muito sofrimento até sua morte aos 67 anos. Ela vivia com a tia que a tratava como inválida, não deixava Maud sair, era muito grosseira e a escravizava nos serviços domésticos. Maud então vê a oportunidade de se livrar dessa tia, quando encontra um anúncio em uma loja, para contratação de doméstica, e se candidatou para assumir os serviços a um homem rude, de poucos recursos, que veio a ser seu marido.

A artista se manteve pobre em grande parte de sua existência, e permaneceu em uma pequena casa ao lado do esposo.

Ela foi uma excelente pintora, porém, sua condição de saúde reduziu a mobilidade de suas mãos, que eram o principal instrumento nas pinturas. Sua mãe Agnes foi quem influenciou a menina a se apaixonar pelas artes desde cedo. Na infância, ela incentivava a filha a pintar cartões postais para vender no Natal. Mesmo com todo pacote de problemas, Maudi persistiu sem reclamar da falta de ajuda dos outros, muito menos culpar sua família pela genética complicada, e tampouco recriminou a Deus a dificuldade em subsistir. Ela conquistou um enorme reconhecimento entre os anos 1964 e 1965, quando foi destaque no Telescope da CBC-TV, tornando-se uma artista popular e amada, e muito conhecida por suas obras. Duas das pinturas de Maud foram encomendadas pela Casa Branca na década de 1970, durante a presidência de Richard Nixon, mas a artrite limitava sua capacidade em concluir muitas encomendas.

Quantas limitações você carrega que lhe mantém sem ação e com mau-humor frequente por não ter sido acolhido(a) de braços abertos pelo mundo?

Qual é o tamanho de seu ressentimento ao conhecer suas reais limitações que foram decididas e desenhadas ao longo de seu caminhar.

Assim como a literatura, alimente-se com a capacidade de observar o mundo a sua volta, do contrário, pode matar de fome sua alma.


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Raul Tartarotti

Raul Tartarotti é Engenheiro Biomédico, cronista e mentor do portal www.espacodacultura.com.br, voltado a divulgação de textos de autores brasileiros. Coautor do livro "A voz dos novos tempos". Estudou filosofia clássica, contemporânea e literatura Russa. Suas crônicas têm cunho humanístico e abordam temas contemporâneos, e são publicadas em diversos sites culturais no Brasil e exterior.

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