Crônicas

A razão da crônica

Escrevo esta crônica pensando na razão de escrevê-la! Por que escrever uma crônica? De que me serve a crônica?

Mas qual seria a razão de todas as crônicas?

Dizem que a crônica é metida a besta porque ora é prosa, ora é poesia, ora é ensaio, ora não é nada…

Dizem os estudiosos que a crônica é o testemunho de um tempo, o registro dos homens e seus conflitos.

Dizem ainda que a crônica é o texto do dia, da linguagem do dia, das questões do dia…

Muitos concordam que a crônica está intimamente ligada ao calendário, aos fatos corriqueiros…

Mas, se for assim, a crônica nasce inevitavelmente velha, fadada ao nada, ao ostracismo. Como um número, um dia um mês, um ano…

No entanto, creio que a crônica é muito mais que o dia! Ela é uma voz, ou melhor, as vozes de todos os cronistas que, atentos ao mundo e aos outros, escrevem sobre o amor e a tristeza, sobre os sucessos e os fracassos, sobre a vida e a morte, o trânsito, a rua cheia e a rua vazia, o beijo dos namorados, os encontros e os desencontros, os sabores e os dissabores, o que é eterno e o que é finito, o que é sagrado e o que é profano, o que se usa e se diz e o que não se usa e não se diz…

O pequenino gesto de uma criança, uma nuvem no céu, o nascer ou o pôr do sol, a lua, as canções do vento e o vento das canções, todas, todas as sensações, o corpo suado de espanto, os olhos marejados de expectativas, ora concretizadas, ora destruídas…

A crônica é o estalo e o espasmo, a grande surpresa de estarmos aqui neste mundo!

A crônica é, em suma, o melhor texto para nos apresentar como somos, seres transitórios e contraditórios, mas cheios de ideias e talentos!

Por isso, quando as pessoas falam da crônica como um texto menor, elas estão enganadas, na verdade, ela, a crônica, é o maior dos textos justamente porque fala, de maneira simples, da nossa essência: a essência que reside nas pequenas coisas.

Então, respondendo ao que foi colocado no início deste texto, escrevo porque a escrita é a minha maneira de entender o mundo e a mim… Escrevo também porque, a despeito de todas as provas ao contrário, acredito no humano e sigo teimosamente nesta crença…

Esta a razão da crônica! Continuar acreditando, apesar de tudo…


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Campista Cabral

Campista Cabral, leitor assíduo dos portugueses Camões e Pessoa, do poetinha Vinícius, herdou deles o gosto pelo soneto. A condensação dos temas do cotidiano, assim como a reflexão sobre o fazer poético, parece procurar a sua existência empírica ou, nas palavras do poeta, um rosto perfeito, na estrutura do soneto. Admirador e também leitor obsessivo de Umberto Eco, Ítalo Calvino, José Cardoso Pires, Lobo Antunes, do mestre Machado de Assis e do moçambicano Mia Couto, retira dessas leituras o gosto pela metalinguagem, o prazer em trabalhar um espaço de discussão da criação literária em sua prosa. A palavra, a todo instante, é objeto base dos contos e das crônicas. A memória, o dia-a-dia, o amor, as sensações do mundo e os sentidos e significados da vida estão presos nos mistérios e assombros da palavra.

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