Crônicas

Papilas gustativas do viver 

Na última semana, por ocasião do aniversário de uma grande amiga, me deparei com o desafio de escrever um cartão de felicitação. Não me servia aquele que já vem com a mensagem pronta e só precisamos assinar. Tampouco queria escrever apenas: Parabéns! Saúde e Paz.

Muito embora essas palavras, por si só, já representem as joias raras da sorte, queria desejar algo a mais. É certo que dependemos da saúde para realizarmos qualquer feito e da paz para desfrutarmos de qualquer situação, mas há que se ter outros requisitos para a magia do sorriso solar acontecer.

Visando garantir a minha amiga o melhor dos mundos, achei de bom tom incluir a coragem. A vida depende desse impulso, dessa força propulsora que quebra a potência destruidora do medo de errar e de ser quem se é.

Caprichei na letra e nas palavras para que a mensagem carregasse em si o poder magnético do afeto, da amizade e do pensamento positivo.

Já estava pronta para assinar quando algo me inquietou por dentro. Tudo estava dito, o novo ciclo seria perfeito, repleto de bons acontecimentos, sonhos e conquistas. Mas, nesses termos, pareceu inverossímil o meu voto de felicidade.

Necessitava alertar minha amiga de que essa expectativa de sucesso e vitórias infindas era uma arrumação ilusória de belas palavras. Decidi avisar sobre a possibilidade de momentos difíceis, porque a vida é real e um pouquinho injusta, mas para isso temos a esperança, agasalho dos dias frios de sofrimento.

De imediato, achei indigesto falar de tristeza, decepção num cartão de aniversário… todavia, sem isso também não se experimenta as papilas gustativas do viver.

Por fim, escrevi:

“Amiga, que a vida lhe sorria muito, mas se lhe fizer chorar, não lhe falte garras para seguir em frente, lanhando a cara do infortúnio. Nos dias nublados, toque uma flor, abrace uma árvore. Jamais se esqueça: as nuvens carregadas trazem a chuva que rega a terra.”


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Soraya Jordão

Soraya Jordão é psicóloga e escritora. Nasceu no Rio de Janeiro em 1968, sob o signo de Virgem. Durante a pandemia, descobriu seu interesse pela escrita. É autora do e-book de contos Histórias que contei pra Lua, publicado pela Amazon, em 2022. No mesmo ano, publicou o livro infantil O plano do tomate Tomé, pela editora Itapuca. Foi finalista do concurso Poeta Saia da Gaveta do Verso Falado (2021) e do concurso de crônicas do Instituto Fome Zero (2022). Recebeu menção honrosa no Concurso Literário Relâmpago Virtual, da FALARJ, em 2023. Seu primeiro romance Ciranda de mamutes foi selecionado e publicado pela Editora Patuá em 2023. Escreve para os sites Crônicas Cariocas e Crônica do Dia.

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