Poesias de 1 a 99

Poema #9 : Tudo é poesia

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Tudo é poesia
A agitação da rua
O sinal
E a correria!
A voz do vendedor
O som do dia.

Tudo é poesia
A propaganda
O chafariz
Até a melancolia
O engarrafamento
O papelão pra noite fria.

Tudo é poesia
Os menores na esquina,
Uma bola ou um limão
Acrobacia
No alto dos edifícios
A vida silencia!

Tudo é poesia
Nas placas, andaimes,
Guindastes
Não há monotonia.
Há tremor, rumor
A amarga dor,
Sinestesia!

E quando tentam tirar
As coisas do seu devido lugar
Autofagia!
Não importa!
Pois tudo na cidade
É poesia!

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Campista Cabral

Campista Cabral, leitor assíduo dos portugueses Camões e Pessoa, do poetinha Vinícius, herdou deles o gosto pelo soneto. A condensação dos temas do cotidiano, assim como a reflexão sobre o fazer poético, parece procurar a sua existência empírica ou, nas palavras do poeta, um rosto perfeito, na estrutura do soneto. Admirador e também leitor obsessivo de Umberto Eco, Ítalo Calvino, José Cardoso Pires, Lobo Antunes, do mestre Machado de Assis e do moçambicano Mia Couto, retira dessas leituras o gosto pela metalinguagem, o prazer em trabalhar um espaço de discussão da criação literária em sua prosa. A palavra, a todo instante, é objeto base dos contos e das crônicas. A memória, o dia-a-dia, o amor, as sensações do mundo e os sentidos e significados da vida estão presos nos mistérios e assombros da palavra.

5 comentários

  1. Mais uma vez você nos mostra a vida e a poesia presente nela. O que pulsa, vibra, sensibiliza, emociona, nos mostra o quanto somos fortes ou fracos diante das vicissitudes do tempo que temos.

  2. Essa poesia nos apresenta uma visão única e fascinante da vida urbana, onde tudo é poesia. Desde a agitação da rua até a melancolia, passando pela propaganda, o chafariz e até mesmo o engarrafamento, tudo é transformado em arte.

    mesmo nas situações mais difíceis ou monótonas, há sempre poesia. A amarga dor, a sinestesia, a autofagia… tudo isso é transformado em uma espécie de beleza, uma forma de expressão que nos faz ver a cidade de uma maneira diferente.
    A poesia é simplesmente genial: “Não importa! Pois tudo na cidade É poesia!”. É como se você estivesse nos dizendo que, não importa o que aconteça, a cidade sempre será um lugar de inspiração, de criatividade e de beleza.

  3. Nada como ter olhos e ouvidos (e olfato e paladar e tato) para perceber a poesia pulsante mesmo no meio duma selva de pedra. Não percamos essa capacidade!

    Mais uma vez, gostei imenso do texto.

    Grande abraço, amigo.

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