Crônicas

Posto, logo existo

Recentemente, assisti à peça O Figurante, com Mateus Solano, e saí do teatro com uma pergunta martelando: somos protagonistas ou apenas figurantes da nossa própria história?

No monólogo, Solano interpreta um figurante profissional — alguém que sonha em viver um personagem com voz, rosto, presença… mas nunca sai do fundo da cena. Invisível.

Esse teatro me fez pensar na vida real. Quantos de nós nos sentimos assim?

Com as redes sociais, surgiu um novo tipo de invisibilidade. Há os que estão dentro da rede e os que permanecem fora, invisíveis ao mundo cibernético.

Para fazer parte desse universo virtual, criamos versões idealizadas de nós mesmos, guiadas por um roteiro imaginário em que sempre somos bem-sucedidos, felizes, viajando, cercados de pessoas e conquistas — tudo para postar, compartilhar, viralizar e, assim, escapar do anonimato. É como se só existíssemos se postarmos algo. “Posto, logo existo.”

Nos espelhamos em influencers, novos “semideuses digitais”, e vamos nos afastando de quem realmente somos.

Fica a reflexão deixada por Solano na peça: “Na ânsia de fazer parte desse mundo, acabamos por nos afastar de nós mesmos a ponto de não saber se somos protagonistas ou figurantes de nossa própria história.”

Já pensou nisso?

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Ana Helena Reis

Ana Helena Reis é paulistana, pesquisadora e empresária, com extensa produção de textos acadêmicos. Em 2019 começou a se dedicar à escrita literária e à ilustração de seus textos em prosa: contos, crônicas e resenhas, relacionados a fatos e situações do cotidiano. Publica em seu blog, Pincel de Crônicas, em coletâneas, e revistas eletrônicas. Em 2024 lançou seu primeiro livro solo, Conto ou não conto, pela editora Paraquedas/Claraboia, e, em Espanhol, Inquietudes Crónicas, pela editora Caravana/Caburé.

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