Tenho na lembrança uma função doméstica sempre presente na casa de minha mãe – o dia de arear as panelas. O esfrega-esfrega com palha de aço e sapólio ia desgrudando as crostas formadas pelos alimentos ali preparados, que sedimentavam nos cantos, nas beiradas, no fundo das panelas.
Sabores da vida que se desenrolava, impregnados nas marcas das panelas. Aquele cozido de emoções apuradas no fogo baixo ao longo dos anos, os embates passados nas frigideiras a estalar, a doçura necessária para baixar os ânimos até o ponto de fio.
Caldo de um tempo que seguiu, continua seguindo e hoje pede outro espaço nas panelas.
Tempo de uma Nouvelle Cuisine, de sentir o frescor, a leveza, a delicadeza de um novo cardápio. É chegado o momento de arear nossas panelas. Despregar lá do fundo aquilo que algum dia teve sabor, consistência, colorido, mas deixou resíduos cinzentos que só servem para tirar seu brilho.
É hora de lustrar nosso caldeirão para receber as cozeduras que a vida nos reserva.
Olá Ana. Linda analogia, presente em nossas vidas e servindo de exemplo a todos virtuosos, que recordam daquele aconchego na alma que foi nosso começo enquanto engatinhávamos.
Parabéns.
Abraço.
MUITO OBRIGADA, TARTAROTTI!