Carnavais
Admiro o carnaval.
A espera, o frenesi, os preparos do corpo — regimes, bronzeamentos, fortalecimentos. A rotina dos exercícios e treinos; a dedicação da passista em horas e horas de ensaios; o tratamento e implante de cabelos, cílios e o que mais puderem. A entrega do ritmista, a criatividade dos sambistas, as costureiras e suas fábricas de fantasias e adereços. Tudo isso compõe esse evento grandioso.
Vou falar… admiro mesmo! Mais do que isso: fico perplexa.
O carnaval me causa espanto… ou será que sou eu a própria estranheza?
Como assim, não ser apaixonada por essa festa impressionante?
Ignorar essa extraordinária celebração?
Não, isso não deve ser normal!
Volto no tempo, na minha meninice. Quem sabe lá eu tenha me encantado com uma serpentina ou com um brilho de purpurina no rosto… talvez uma sapatilha dourada, um saquinho de confete.
Vasculho minhas lembranças, tento encontrar um sinal, uma pista… talvez o barulho de um tambor, o gemido de uma cuíca, a luz e o brilho daquele que é considerado “o maior espetáculo da terra.”
Que besteira! Fui criança de cidade do interior, onde os bailes de carnaval eram exclusividade dos associados. Ainda assim, talvez tenha me assustado com a irreverência de um palhaço ou com algum moleque de máscara horripilante, saída dos gibis de terror.
Por acaso, alguma mãe de coleguinha me terá convidado para um matinê ou bailinho vespertino?
Carnaval. Essa festa tão linda, tão sonora, tão colorida, um evento grandioso, hipnotizante e inesquecível!
Desisto. Procuro e não encontro — nem no passado longínquo, nem em lembranças esparsas e menos ainda nesta fase da vida — nada, nenhum sinal que justifique minha total incapacidade de ser tocada pela grandiosidade dessa festa.
Ainda assim, desejo àqueles que aguardam o ano todo pelo “Grito de carnaval” que aproveitem a época, mas lembrem-se: ano que vem tem mais!