Crônicas

Chapéu revelador

Gosto muito de usar chapéus, tanto no verão como no inverno, mas nunca me preocupei em destrinchar o significado dessa minha predileção. Depois do evento em que Melania Trump apareceu com um chapéu cobrindo os olhos e gerou uma série de interpretações sobre o significado dessa escolha, passei a pensar um pouco mais sobre o assunto.

Se for analisar esse meu gosto por cobrir a cabeça sob um ponto de vista racional, os chapéus de feltro que adoto no inverno pretendem agasalhar a cabeça, sem colocar aqueles gorros de lã que me deixam com o visual de um gnomo velho. Já as peças de verão são plenamente justificadas pela proteção da pele do rosto. Por ser muito clara e ter um fator genético envolvido, mesmo com a proteção de um filtro solar potente, não tem como evitar os spots marrons que a velhice só faz ressaltar.

E o que mais estaria por trás desse encantamento meu com chapéus? Achei interessante pesquisar o que se falou sobre o chapéu da primeira-dama e daí puxar o fio da meada.

Descobri que o estilo de chapéu de palha de lã adotado, com as abas obscurecendo quase totalmente os olhos, foi projetado pelo chapeleiro Eric Javits, de Nova York. Segundo o próprio estilista, “era um floreio austero para um conjunto elegante de estilo militar”. Qual o recado que Melania queria passar com esse estilo militar? Minha curiosidade aumentou, fui um pouco mais a fundo na história do chapéu de palha que serviu de inspiração para o estilista.

Cheguei ao Chapéu Panamá. Originário do Equador, é feito de palha toquilla, mas foi associado ao Panamá devido à sua exportação através do porto lá localizado. O nome se popularizou quando o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, usou o chapéu durante a visita de inauguração do Canal do Panamá, em 1906.

Opa! Melania de Chapéu tipo Panamá cobrindo o rosto e traje estilo militar na posse do Presidente. Declarações polêmicas de Trump sobre expansão territorial e retomada do Canal, mesmo que haja necessidade do uso de força militar para recuperá-lo. Coincidência ou tudo estilosamente planejado?

Voltei aos meus chapéus, acho que está na hora de revisitar cada um deles e, talvez, ter mais cuidado com o recado que cada um pode passar.

Mostrar mais

Ana Helena Reis

Ana Helena Reis é paulistana, pesquisadora e empresária, com extensa produção de textos acadêmicos. Em 2019 começou a se dedicar à escrita literária e à ilustração de seus textos em prosa: contos, crônicas e resenhas, relacionados a fatos e situações do cotidiano. Publica em seu blog, Pincel de Crônicas, em coletâneas, e revistas eletrônicas. Em 2024 lançou seu primeiro livro solo, Conto ou não conto, pela editora Paraquedas/Claraboia, e, em Espanhol, Inquietudes Crónicas, pela editora Caravana/Caburé.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Desative para continuar