Eu, produto de valor
Abriu uma nova sorveteria no shopping perto da minha casa. Por estratégia ou atrevimento, a novinha fica em frente à geladinha oficial.
Disposta a conhecer a gostosura da hora, entrei na imensa fila que se formava. Tentei me distrair com as opções de sabor, designer da loja, mas, na consciência, pesava a culpa da traição. Para agravar a tensão, pertinente ao momento de flerte que não deveria acontecer, me acompanhava o olhar da atendente da sorveteria antiga. Pude ouvir seus pensamentos:
— Tá fazendo o quê aí, sua falsa?
Juro que pensei em desistir. Rejeitar a oportunidade de saborear uma nova experiência e, com o rabo entre as pernas, voltar para a queridinha oficial. Mas o tédio é um encosto nos traidores.
O cansaço da rotina desperta o pior de cada um. Pensar nisso, construiu a coragem necessária para rebater os resquícios da minha ética amorosa:
— Merece o chifre. Enquanto era única na minha vida, nunca fez uma promoção, me deu brinde ou ofereceu um cupom de desconto. Agora, aguenta a dor de me perder.
Peguei minha casquinha, ergui os ombros, joguei o cabelo, empinei o bumbum e passei bem devagar na porta da ex.
A lógica do mercado também rege as relações amorosas. A concorrência sempre favorece o consumidor.
Que delícia de crônica!
É isso!! Rs….