
Nesse Carnaval vou me fantasiar de Eunice Paiva
O Carnaval tem raízes em festividades pagãs, como as Saturnálias romanas, nas quais os papéis sociais eram temporariamente invertidos e as pessoas se entregavam a banquetes, bebidas e celebrações sem restrições.
Celebrado em inúmeros países até os dias de hoje, cada local tem uma maneira própria de celebração, misturando influências históricas, folclóricas e contemporâneas. O Carnaval de Oruro, na Bolívia, por exemplo, tem forte influência indígena e religiosa e a “Diablada” é a dança mais emblemática, representando a luta entre o bem e o mal. Em Cádiz, na Espanha, a festividade se destaca pela sátira das “comparsas” e “chirigotas”, que apresentam canções e paródias sobre política e cultura.
Já no Brasil, a “folia” (palavra que significa loucura, diversão frenética) de Carnaval é essencialmente um evento que une pessoas de diferentes classes sociais, promovendo um senso de comunidade e pertencimento. Ao som do samba, do frevo e maracatu, é um espaço de manifestação artística e política, onde a alegria também pode servir para questionar e criticar livremente a sociedade.
O tradicional uso de máscaras e fantasias simboliza essa liberdade, ajudando as pessoas a se sentirem mais à vontade portanto uma identidade diferente por alguns dias.
Por isso mesmo, escolhi para esse ano me fantasiar (mesmo que só espiritualmente) de Eunice Paiva.
Caracterizações de Fernanda Torres no figurino vermelho de bolinhas que ficou emblemático em Tapas e Beijos, fantasias da estatueta do Globo de Ouro, e outras criações humorísticas em torna das frases que ela pronunciou nas recentes entrevistas viraram febre de brasilidade nesse Carnaval de 2025.
Compartilho da alegria, torcida e expectativa a respeito da premiação do Oscar nesse domingo e da força que uma manifestação de rua tão genuína pode trazer para recuperar o orgulho do cinema brasileiro, com o humor e criatividade típicos de nosso povo. Mas… escolhi me fantasiar de Eunice Paiva. Acho que a euforia do prêmio não pode ofuscar a importância da tragédia vivida pela família Paiva, reportada com tanta maestria e delicadeza por Walter Salles em Ainda Estou Aqui. Não pode deixar de homenagear a resiliência, coragem e dignidade com que essa mulher tratou o esfacelamento de tudo aquilo que lhe trazia segurança, alegria e conforto.
Por isso mesmo, nesse Carnaval, ao ler os noticiários nada promissores em relação ao extremismo que está se configurando ao redor do mundo, vou posar de Eunice Paiva e dizer… Sorriam!