Crônicas

Para ler João Pessoa…

Existe quem diga que os cronistas não servem para nada. Há também os que atribuem diversas funções a eles, inclusive, apontando contribuições oriundas do exercício desse ofício. Uma delas diz respeito à questão urbana.

Apreendendo a vida da cidade e a descortinando para os seus contemporâneos e para as futuras gerações, aqueles literatos conseguiriam apresentar um quadro urbano tão preciso quanto a própria realidade, subsidiando a compreensão desta.

Assim, para conhecer o Rio de Janeiro na Primeira República, não seria necessário se dirigir à Baía da Guanabara, bastaria ler João do Rio. Do mesmo modo, afirmo: para conhecer a capital paraibana, você não precisa ir até ela, leia Gonzaga Rodrigues.

Nascido em Alagoa Nova, adotou João Pessoa, que também o adotou. Não são poucos os seus escritos que falam da cidade e nos fornecem um retrato vívido dela, retrato que é também leitura desse mundo. Gonzaga é um mestre nisso. Como se carregasse um sítio consigo, o ambiente rural também se faz presente no que ele escreve. Todavia, é o primeiro caso que mais me impressiona.

Da vida cotidiana na urbe, emergem várias de suas crônicas. Como um autêntico flâneur, por onde passa, recolhe muito mais do que causos a serem relatados, capta a alma encantadora das ruas. Em uma caminhada descompromissada pelo Ponto de Cem Réis, é capaz de apanhar a dinâmica urbana e, por meio do artifício da palavra, colocá-la pulsando em forma de texto.

O cronicário do alagoa-novense é repleto de relatos sobre os mais diversos cantos desse burgo, histórias dele que são também as do lugar que se tornou seu. Por meio de retratos de memória, é possível reconstituir um panorama da cidade.

Através das crônicas de Gonzaga Rodrigues, percorremos as ruas da cidade, conhecemos personagens que a habitam e temos notícia de suas histórias. Tendo vivido quase a minha vida inteira em João Pessoa, foi pelas páginas do nosso cronista-mor que pude ler melhor meu torrão natal. Já quem nunca esteve por aqui, não é necessário recorrer a manuais de turismo e nem a passagens de avião, o caminho já está assinalado.

Para conhecer João Pessoa, leia Gonzaga Rodrigues.

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Lucas Arroxelas

Lucas Arroxelas é poeta, cronista e historiador. Nascido em João Pessoa, hoje, divide-se entre esta cidade e Recife, onde realiza o seu doutoramento na UFPE. Sua produção literária perpassa especialmente a poesia e a crônica. Além de textos em livros coletivos e revistas, publicou De tudo, nada (poesia, 2021, Editora Ideia) e Quadro crônico(crônicas, 2023, Penalux). Formou-se em História na UFPB e desenvolve pesquisas sobre o período colonial, notadamente acerca da Paraíba nos séculos XVII e XVIII. É também membro da UBE-PB.
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