POEMA #01 – QUARENTENA – QUARESMA – QUARESMEIRA
Cinco anos depois da pandemia ser anunciada, revisito este texto que nasceu em meio ao isolamento — ecos de um tempo que ainda ressoa.
O horizonte anunciou um desafio
Na época que traria
Tanta luz e liberdade
Chegaram tempos de trevas
Fomos convidados ao exílio
Um inimigo invisível
Uma tal gripezinha
Que surgia na China
E, de repente, fez vítima,
Seu José da esquina
E com o perigo iminente
Me isolei
Nos tempos das quaresmeiras
Roxas como um suplício
Pré-milagre de Cristo
Me isolei
Ou melhor, nos isolamos
Em um paraíso distante
Em um refúgio externo
Ou no silêncio que guardo
Me isolei
Perdi a vaidade
Tentei assumir os brancos
Quase raspei os cabelos
Mas recobrei a sanidade
Me isolei
Adotei duas gatas
Meu amor surtou
Elas ronronaram
Ele se apaixonou
Me isolei
Quis morrer
Quis sumir
Quis viver
Ressurgi
Me isolei
Perdi um tio
Perdi uma prima
Chorei
Como você também chorou
Me isolei
Conversei com amigos
Voltei a falar com meus primos
Me senti parte de algo
Dentro do meu vazio
Me isolei
Fiz máscaras de beleza
Pintei as unhas
Emagreci
Engordei
Me isolei
Vi ministros humilhados
Nossos poderes desnudos
Ouvi o que não queria
Falaram o que não devia
Me isolei
Acordei de maneiras várias
TPM´s, alegrias
Senti saudades
Do que não tinha
Me isolei
Li tantos livros
Escrevi quase diários
Poemas curtos
Contos que criei
Me isolei
Descobri mais de mim
De você
Ou até do outro
Já nem sei
Me isolei
Fui amiga do sol
Companheira na chuva
Me perdi
Me encontrei