Poesias de 1 a 99

Poema #24: RETORNO AO FINAL

“meu Deus, porque me abandonaste?
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco”

Drummond

protagonista
de minha vida pregressa
hoje sou coadjuvante
de ruinas.

nas águas do rio
fiz algumas tentativas
mas acabei afogando
na correnteza.

mudei de fase:
virei pescador
de sonhos frustrados
à beira dos barrancos.

galopei como quem
sonha por estradas
poeirentas de Minas
Gerais, sozinho.

empinei pipas e
papagaios em céus
nevoentos de minha
infância distante.

virei (ou tentei virar)
compositor de vanguarda
e fiz parcerias utópicas
com célebres defuntos.

amante de belezas glacias
as mulheres passaram
por minha vida como
barcos à vela naufragados.

fui poeta das condolências
em velórios de interior
quando o defunto era
o que menos importava.

candidatei a representante
do povo, mas não tinha
propostas viáveis no bolso
da algibeira rota e furada.

Da Essencialidade da Água

Mostrar mais

Milton Rezende

Milton Rezende é poeta e escritor, nasceu em Ervália (MG), em 1962. Viveu parte da sua vida em Juiz de Fora (MG), onde foi estudante de Letras na UFJF, depois morou e trabalhou em Varginha (MG). Funcionário público aposentado, morou em Campinas (SP), Ervália (MG) e retornou a Campinas (SP). Escreve em prosa e poesia e sua obra consiste de quinze livros publicados. Fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, de Maria José Rezende Campos (Penalux, 2015).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Desative para continuar