Crônicas

Crônica Burocrática

A crônica começaria agora, mas é preciso antes que o leitor e o cronista paguem a taxa necessária ao andamento das crônicas. A TADC. Parágrafos são caros. Quando saem do mundo real então! Cada palavra tem seu preço tabelado. Cada figura de linguagem uma alíquota a mais. Por isso, cuidado com as vias! Uma para o leitor, outra para o cronista.

E, depois disso tudo, ainda hão de enfrentar, cronista e leitor, uma fila no Banco da Estupidez, uma passada na Seção das Inutilidades e ainda retirar novos recibos no Departamento da Embromação.

A crônica recomeçaria agora, contudo, ainda há a taxa para a liberação da crônica, a TLC. Os juros estão pela hora da morte. Pensar custa caro! Escrever o que se pensa… Mais caro! E precisa de carimbo, de selos, de revisão, de anotação, novas filas e seções e recibos. Cartão.

E não adianta reclamar. Caso contrário, nada de crônica, nada de leitura. Nas orelhas de ambos um puxão.

Cronista e leitor avançam, com papéis de variados tamanhos nas mãos, moedas nos bolsos e paciência e mansidão. Mansidão?

Insatisfação.

E pegam outras folhas e envelopes. E precisam de assinatura e maiores carimbos. E correm contra o tempo. Contratempo. Aflição.

Afinal, vivemos no país da burocracia! Nada se faz sem papel, sem carimbo, sem vias e mais vias… idas e vindas de seção em seção!

E não adianta reclamação!!!

A crônica recomeçaria agora…

Mas, com as redes sociais, ainda há a taxa de verificação de autenticidade. Autenticidade? Vai que esse texto tenha sido escrito pelo Luis Fernando Veríssimo? Nessas terras tão complexas da internet, a cópia e a manipulação dão o tom! E olha que, mesmo fazendo a tal verificação, corre-se o risco de não poder publicar! De não poder escrever! Sei lá… E ainda tem a “Inteligência Artificial” … Será que a “Inteligência Artificial” tem capacidade para escrever uma crônica? O que será dos cronistas?

A crônica recomeçaria agora…

No entanto, antes que uma multa chegue à redação é melhor que se dê cabo ao pretenso texto… Imaginação? Não!

Que tal um ponto final?


Mostrar mais

Campista Cabral

Campista Cabral, leitor assíduo dos portugueses Camões e Pessoa, do poetinha Vinícius, herdou deles o gosto pelo soneto. A condensação dos temas do cotidiano, assim como a reflexão sobre o fazer poético, parece procurar a sua existência empírica ou, nas palavras do poeta, um rosto perfeito, na estrutura do soneto. Admirador e também leitor obsessivo de Umberto Eco, Ítalo Calvino, José Cardoso Pires, Lobo Antunes, do mestre Machado de Assis e do moçambicano Mia Couto, retira dessas leituras o gosto pela metalinguagem, o prazer em trabalhar um espaço de discussão da criação literária em sua prosa. A palavra, a todo instante, é objeto base dos contos e das crônicas. A memória, o dia-a-dia, o amor, as sensações do mundo e os sentidos e significados da vida estão presos nos mistérios e assombros da palavra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Desative para continuar