A minha pátria
Quando escrevo sobre a minha pátria, eu fico confuso. Penso em tudo que amo e, ao mesmo tempo, penso em tudo que odeio.
Quando escrevo sobre a minha pátria, sinto calor, arrepio, felicidade, dor, enjoo, sinto frio…
Quando escrevo sobre a minha pátria, a palavra evidente é contradição!
A minha pátria é o paraíso, o céu azul, o mar aberto e profundo, o olhar da moça cor de cobre, o lugar mais lindo do mundo.
A minha pátria é o embuste, o ridículo, os patéticos engravatados, o abuso, o homicídio, a insensatez, a brutalidade, o conflito armado na cidade.
A minha pátria é pão de queijo, goiabada, aconchego, o doce beijo, o gostoso café e a palavra cafuné…
A minha pátria é a maior mentira que se tem contado, o país que não tem futuro, o país das grades e dos muros, o país das cracolândias e a morte das muitas infâncias.
Brasil, terra dos esfomeados e dos fartos, espaço de mendigos e de reis, lugar de iletrados e doutores…
A minha pátria é isso: o sim e o não, o bonito e o feio, o certo e o errado, a preguiça e a luta, o cansaço e a perseverança, a desilusão e a esperança…
Eis o meu país, eis a minha pátria: uma colcha de retalhos, uma porção de cacos que ora se juntam, formando um espetáculo, um carnaval… ora se espalham, criando o caos.