Aos sonhos, afinal
Acordou mal. A noite foi ruim. Um sonho, o único que ele lembra, foi o responsável pelo seu estado atual.
Um sonho ruim onde a dúvida se tornava certeza. Nada mais dela na sua vida, nada mais com ela ou sobre ela. Nada mais.
Passou o dia angustiado com a mera lembrança do sonho. Piorou quando recordou que à luz da psicanálise o sonho pode ser a manifestação de desejos inconscientes. Pode, no condicional, mas por conta do estado de angústia em que se encontrava tornou-se certeza.
Desejo é sempre ligado a algo que se quer, lembrou ele ao longo do dia. O sonho revelador seria isso então, um desejo?
Mas por que sua mente lhe pregara essa peça? Por que desejar o que não nos faz bem?
Desejar ela longe de si, seria o desejo oculto guardado no fundo de seu inconsciente que nas horas silenciosas da madrugada emergia suave mas decidido? Mas por que essa certeza de não a ter mais seria de fato algo ruim?
Talvez precisasse assumir para si mesmo que nada mais de bom haveria de vir dela, ou melhor da relação com ela. Projetar uma reconciliação era fantasia. A distância talvez seja melhor do que a proximidade?
Sonhar com a certeza, disse para si mesmo, não era de todo ruim. Melhor que viver na dúvida.
A certeza ruim dói uma vez, ou duas. A dúvida imobiliza eternamente.
Afinal, disse para si quando voltou para casa, o sonho não teria trazido o desejo de algo ruim mas sim da mudança necessária. Adiada por razões várias, da falta de coragem à esperança fútil. Mudança necessária? E, quem sabe, mesmo bem vinda?
Sim, definitivamente.
Nada mais de buscar a mensagem dela que nunca virá, a atenção que ele não recebe mais dela. Livre, afinal. Liberto por vontade própria. Livre para dar outro rumo à sua vida.
Naquela noite deitou-se ansioso, reconciliado. Que venham os sonhos, afinal.