Considerações de véspera sobre a véspera
Véspera. Do latim vesperae. A tarde, ao cerrar da noite. Poeticamente, ao encerrar um ciclo solar. Dos pequenos, claro.
Deriva também de Vésper, a estrela que não é estrela, visível a olho nu quando a tarde cai.
Véspera é o território preferencial da ansiedade. Quando estamos a poucos passos ou horas daquilo que desejamos. Ou não desejamos mas é inevitável que venha até nós.
Dizem por aí que a arte reside em controlar a ansiedade da véspera. Papo. Eu já tentei inúmeras vezes em mais de cinquenta anos de existência. Nesse tempo todo jamais – ou quase jamais – tive sucesso. Perco o sono que é uma beleza.
Achei seis dicas para domar a ansiedade, reunidas pela BBC, British Broadcasting Corporation, fundada em 1922. As dicas da centenária BBC são:
Monitore os seus pensamentos.
Faça atividades físicas e pratique meditação.
Encontre um propósito – nem que seja cuidar de seu animal de estimação.
Veja o lado bom da vida (por mais que isso seja desafiador)
Viva no presente.
Busque terapia – na sexta posição e, a meu ver, como último recurso se os demais falharem. Ainda não cheguei aqui mas é bom ter a lista à mão. Se bem que umas linhas acima eu admito que perco o sono por ansiedade. É, acho que já é o caso de terapia. Mas vejo isso depois de malhar na academia.
Voltando.
Há sucessos que só duram até a véspera, como o reinado daquele rei destronado em batalha no dia seguinte. Ricardo III que teve insônia – olha mais um!!! – na noite anterior ao combate e foi assombrado por fantasmas daqueles que morreram por sua culpa. Ao menos é o que está na peça de Shakespeare que já se sabe é historicamente imprecisa. Um detalhe que não ofusca sua beleza dramática.
Seguindo.
Véspera da decisão daquele jogo em que o craque de um time foi para a farra e o outro foi atender ao chamado de um menino que acordou na emergência infantil do hospital chamando pelo seu ídolo. Foi na zona sul do Rio de Janeiro, no século passado, o craque prometeu ao garoto o título. E no dia seguinte, com gol de barriga cumpriu a promessa.
No século XVII o pintor, arquiteto e artesão espanhol Alonso Cano fez uma obra em madeira intitulada “Véspera” que está na catedral de Granada, Espanha.
O bem humorado Adoniran Barbosa tem um samba chamado “Véspera de Natal”. Termina em comédia pastelão com direito a ação do corpo de bombeiros
“Véspera” é o nome do terceiro livro da escritora mineira Carla Madeira. Não li mas espiei uma resenha e acho que deve ser uma obra bem interessante. Vou em busca.
Todo esse papo aleatório porque hoje, sexta-feira, 23 de setembro, é véspera. Mais uma de muitas, dirão.
Mas para mim, a mais importante das vésperas. Quando o sábado chegar será festa. Contemplarei o momento e o viverei na boa companhia das estrelas da minha vida. Andaremos pelo mundo, plenos de alegria e em busca de diversão tendo aos ouvidos “Ode à alegria”, de Beethoven. Ao cair da noite, estaremos juntos, cansados e felizes.
Agora, na véspera, tentarei inutilmente ao longo do dia domar a ansiedade. E a noite, só me restará achar o sono.