Crônicas

Então é natal! 

Então é natal!
E o vendedor na esquina oferece milhares de produtos aos que passam. E vende-se isso e aquilo! E vende-se com muito brilho!

Então é natal!
E as filas dobram, triplicam, numa algazarra somente vista nesta época. Ninguém tem paciência para nada!

Então é natal!
E as vitrines anunciam roupas e calçados e eletrônicos dos mais variados tipos e tamanhos. Muitos e tantos produtos que não é possível imaginar!

Então é natal!
E a promoção de 50% na sandália é de enlouquecer! A promoção que só vale nesse único dia!

Então é natal!
E o trânsito dá um nó no nó! Ninguém vai! Ninguém vem!

Então é natal!
E o supermercado fica aberto 24 horas! O que importa é o trabalho!

Então é natal!
E as pessoas correm e correm e se estapeiam. Eu vi primeiro! Sai da frente! Só tem esse! É o último! Eu quero! É meu! Reserva pra mim! 

Então é natal!
E a mesa é farta e grande e bonita! Canções natalinas ecoam. Árvores de natal e sinos e bonecos de neve e papai Noel enfeitam portas e janelas… Bebidas e conversas, bastante gritaria!

Numa manjedoura, alheio ao burburinho da cidade, nasce um menino, um menino Deus. Nasce num lugar pobre e distante, sem cartazes, sem ceia, sem outdoors e sem vendedores. 

Então nasce a esperança de que um dia entendamos a simplicidade…

Então é natal!


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Campista Cabral

Campista Cabral, leitor assíduo dos portugueses Camões e Pessoa, do poetinha Vinícius, herdou deles o gosto pelo soneto. A condensação dos temas do cotidiano, assim como a reflexão sobre o fazer poético, parece procurar a sua existência empírica ou, nas palavras do poeta, um rosto perfeito, na estrutura do soneto. Admirador e também leitor obsessivo de Umberto Eco, Ítalo Calvino, José Cardoso Pires, Lobo Antunes, do mestre Machado de Assis e do moçambicano Mia Couto, retira dessas leituras o gosto pela metalinguagem, o prazer em trabalhar um espaço de discussão da criação literária em sua prosa. A palavra, a todo instante, é objeto base dos contos e das crônicas. A memória, o dia-a-dia, o amor, as sensações do mundo e os sentidos e significados da vida estão presos nos mistérios e assombros da palavra.

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