O Sótão
Se desejava chorar, a avó subia até o sótão. Ali cobria o rosto com as mãos para, inutilmente, conter as lágrimas, imaginando que ninguém a escutava. As crianças todas íamos devagar e colávamos o ouvido na porta. Ouvíamos quando ela suspirava, quando assoava o nariz no lencinho, quando ficava em silêncio, esperando que a calma secasse seus olhos. Se algum de nós ficasse com dó e fizesse menção de entrar para fazer um carinho em sua cabeça, a mãe nos impedia com um gesto de “deixe que isso logo passa”.
Quando queria rir, a avó também subia para o sótão e gargalhava de quase se acabar. Também nessas ocasiões íamos pé ante pé e ficávamos escutando o riso atrás da porta. Mãe dizia que, se o caso era de riso, podíamos entrar no cômodo e rir junto com a avó, mas preferíamos ouvir as gargalhadas ali mesmo, diante da porta fechada.
Um dia, a avó resolveu que nunca mais iria chorar ou rir, nem que tivesse vontade. Desde então, nós, em dias alternados da semana, subíamos até o sótão para rir ou para chorar. Ignoramos se a avó nos escutava atrás da porta.
Mário Baggio tem um poética triste, mas tão bonita.