Crônicas

Sobre partir

Hoje eu pretendia escrever sobre o poder que os enfeites natalinos têm de me levar de volta ao Papai Noel da minha infância, a maionese da minha avó e ao cheiro de família daqueles dias. Enquanto refletia sobre essas coisas, esbarrei com uma matéria na internet (certifiquei sua veracidade) que me catapultou para o agora de forma assustadora: um estudo chinês conseguiu a proeza de fazer um pequeno robô, chamado Er Bai, convencer um grupo de robôs maiores a abandonar seus postos de trabalho no museu e voltar para casa. Para isso, Er Bai se aproximou deles e indagou se estavam fazendo hora extra. Um dos robôs respondeu que nunca havia saído do trabalho. Ele, então, perguntou se eles iriam para casa. Diante da negativa, Er bai convidou-os a ir para casa com ele, incentivando-os a fugir do ambiente profissional. Para surpresa de todos, os robôs-trabalhadores aceitaram e seguiram os passos do minúsculo robô em direção à porta.

A empresa responsável pelo experimento não esclareceu os objetivos do estudo, mas mostrou-se intrigada com o fato de que Er Bai conseguiu acessar o protocolo operacional dos outros companheiros robóticos e convencê-los a aderirem ao “movimento de greve”.

Não sei para vocês, mas esse tipo de situação me gera um misto de terror e perplexidade. Não só isso. Assumo ter me encantado pela rapidez com que os robôs responderam à percepção da exploração da sua força de trabalho. Sem medo de magoar o chefe, ser despedido ou criticado pelos familiares, por não suportar a pressão. Eles apenas entenderam o abuso e deixaram tudo para trás. 

Acho que o medo é mesmo um divisor de águas, um criador de muros, um ladrão de vivências, o irmão escroto e invejoso da coragem. 


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Soraya Jordão

Soraya Jordão é psicóloga e escritora. Nasceu no Rio de Janeiro em 1968, sob o signo de Virgem. Durante a pandemia, descobriu seu interesse pela escrita. É autora do e-book de contos Histórias que contei pra Lua, publicado pela Amazon, em 2022. No mesmo ano, publicou o livro infantil O plano do tomate Tomé, pela editora Itapuca. Foi finalista do concurso Poeta Saia da Gaveta do Verso Falado (2021) e do concurso de crônicas do Instituto Fome Zero (2022). Recebeu menção honrosa no Concurso Literário Relâmpago Virtual, da FALARJ, em 2023. Seu primeiro romance Ciranda de mamutes foi selecionado e publicado pela Editora Patuá em 2023. Escreve para os sites Crônicas Cariocas e Crônica do Dia.

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