Poesias de 1 a 99

#08 – Ofício

E todo verso que faço
Um pedaço de mim está e fica e se vê
Um outro ninguém sabe, um laço
que não se sabe onde fica e nenhuma vista lê

E toda estrofe que nasce
Meus sonhos e verdades lá estão
Num outro canto, outras verdades
No esquecimento ficarão

Quando o poema, inteiro, surge diante de mim
É meu o rosto e é meu o nome
Mas é um outro que não sou eu
Não sei se isso é o começo ou o fim…

E então me refaço e me reescrevo
Junto ou em pedaços o tempo inteiro
Sou e não sou, tenho ou não tenho
É este o poeta e o seu ofício primeiro

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Campista Cabral

Campista Cabral, leitor assíduo dos portugueses Camões e Pessoa, do poetinha Vinícius, herdou deles o gosto pelo soneto. A condensação dos temas do cotidiano, assim como a reflexão sobre o fazer poético, parece procurar a sua existência empírica ou, nas palavras do poeta, um rosto perfeito, na estrutura do soneto. Admirador e também leitor obsessivo de Umberto Eco, Ítalo Calvino, José Cardoso Pires, Lobo Antunes, do mestre Machado de Assis e do moçambicano Mia Couto, retira dessas leituras o gosto pela metalinguagem, o prazer em trabalhar um espaço de discussão da criação literária em sua prosa. A palavra, a todo instante, é objeto base dos contos e das crônicas. A memória, o dia-a-dia, o amor, as sensações do mundo e os sentidos e significados da vida estão presos nos mistérios e assombros da palavra.

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