
Os imitadores
São excelentes na arte de fingir que vivem e que respiram como nós. Imitam com tanta perfeição os movimentos humanos, que só a constante e mecânica repetição de gestos e olhares os denunciam como bonecos de palha. Homens, mulheres e crianças vagam pelas ruas e cidades parecidos com o que pretendem ser e são bastante convincentes. Só não têm alma ou qualquer vestígio de emoção. Não salivam de alegria na frente de um sorvete de morango nem piscam de excitação diante de uma obra de arte. Nada os desequilibra ou impede que se multipliquem e invadam todos os lugares, casas, restaurantes, escolas, museus, parques, transporte público. Estão por toda parte e é fácil identificá-los: orgulham-se de sua semelhança com os humanos e demonstram isso falando alto em público e gargalhando de maneira esganiçada para chamar atenção.
O dono desses seres exercita sua habilidade criadora nos menores detalhes: forja à perfeição o brilho da pele, o volume da carne, o torneado dos músculos, o arregalado dos olhos, o floreio das mãos, o sorriso na visita ao zoológico. Um homem tem tique nervoso, uma mulher esboça de maneira permanente um meio sorriso, uma criança resfriada engole o muco que desce do nariz como se fosse gelatina.
Tudo transpira a humano, mas não é. São criaturas manipuladas como títeres, sujeitadas por cordões invisíveis e se movimentam e agem de acordo com a orientação que receberam quando vieram à luz: “Façam o que os humanos fazem, suguem como esponja as palavras e os gestos deles, misturem-se à multidão, aos pedestres que zanzam nas ruas e avenidas. Em pouco tempo serão como eles são. Boa sorte a todos.”
Se são quase perfeitos na imitação da vida, eles se superam na perfeição absoluta da morte: quando ela está para chegar, o rosto deles é tomado por uma palidez inicial e, aos poucos, ganha tonalidades intensas de vermelho, marrom ou roxo, o corpo perde os movimentos e a elasticidade e, de maneira surpreendentemente rápida, apodrecem. O destino, implacável, cuida do resto: a sobrevida dessa gente artificial se dá por pouco tempo, em alguma fogueira aleatória. É no meio das chamas que estrebucham pela última vez, contorcendo o corpo e agitando os membros em súplica. Transformam-se rapidamente em cinzas, que é o fim de tudo o que cai na língua do fogo. O vento termina o serviço.